Hay golpes en la vida, tan
fuertes... ¡Yo no sé!
Golpes como del odio de Dios; como si ante ellos,
la resaca de todo lo sufrido
se empozara en el alma... ¡Yo no sé!
Golpes como del odio de Dios; como si ante ellos,
la resaca de todo lo sufrido
se empozara en el alma... ¡Yo no sé!
– César Vallejo em “Los Heraldos Negros”
Impressiona-me
muito assistir às pessoas baterem no peito dizendo: “não me arrependo de nada
do que eu fiz”. O mais próximo que a minha paciência permite, com o “non-sense”
dessas pessoas, é acreditar que elas não saibam o significado da palavra
“arrependimento”. Quem não se arrepende de alguma coisa que já tenha feito, ou
não viveu nada ou não aprendeu com os percalços da vida (o que já seria um bom
motivo de arrependimento). Pior ainda se elas acreditam que nunca fizeram nada de
errado. Com certeza, deveriam se arrepender de não terem ficado caladas.
Arrepender-se significa concluir que
deveríamos ter agido diferente perante alguma situação do passado. Somente um
besta orgulhoso não consegue identificar situações onde errou e, portanto, o
seu comportamento deveria ter sido diferente. Por muitas vezes, o
arrependimento é visto como sinal de fraqueza. Isso é loucura! Arrependimento é
sinal de aprendizado, maturidade, humildade e vontade de melhorar.
Por
algum motivo idiota, as pessoas enxergam os seus erros como fraquezas, razão
mais provável para não aceitarem o arrependimento. O dia em que a humanidade aceitar o erro como
um processo normal para o crescimento, haverá uma diminuição de pacientes nos
divãs dos terapeutas e um índice de felicidade maior. O problema é: como mudar
isto numa sociedade, onde somente o acerto é valorizado? Na escola, ganha estrelinha quem acertar mais;
no esporte, ganha medalha quem conseguir o menor tempo, a maior distância, etc.
O aluno ou atleta que se esforçou e teve um aprimoramento gigantesco, comparado
com o que possuía antes, não tem reconhecimento se não for “o vencedor” e, pior
ainda, às vezes é visto como um fracassado, quando na verdade é muito mais
vencedor do que o medalhista ou o primeiro colocado da turma.
Tenho forte esperança que o sistema, em breve,
reconheça que o modelo adotado tem formado uma massa enorme de vencedores que
são tachados como “fracassados” e que, mesmo os vencedores ao verem que, em
outros aspectos da vida, não são os melhores, não precisam colocar o crachá de
“fracassados” nos seus pescoços. Não saber lidar com o erro ou com não “ser o
melhor” tem gerado um exército de autênticos vencedores que se acreditam
“fracassados”. Como consequência geramos arrogantes que acreditam ser correto
não ter com o que “se arrepender”. Será
que somente eu tenho enxergado isso?
O
arrependimento pode vir pelo reconhecimento de uma atitude diferente a ser
tomada, como efeito de uma decisão pessoal (não farei isto novamente para não
obter esta ou tal consequência) ou então, como uma reação decorrente de um fato
o qual não contávamos como provável (os golpes da vida, que o poeta menciona
acima). Quando o aprendizado resulta de uma decisão pessoal mal avaliada,
crescemos como pessoa. O arrependimento, às vezes, é mais complexo quando resulta
de fatos externos às nossas decisões, por decorrência de atitudes de terceiros
ou então de imponderáveis na vida, como catástrofes ou acidentes. Nestes casos,
acreditamos que reagimos corretamente e que o “golpe” é culpa de terceiros ou
do “acaso”. Se bem, é verdade, que não somos responsáveis pelas atitudes de
terceiros e nem pelas fatalidades; todavia, é verdade sim, que somos
responsáveis pela maneira como permitimos que estes fatos afetem as nossas
vidas, o nosso humor e o nosso destino.
Quando
permitimos que variáveis que estão fora do nosso controle afetem profundamente
a nossa vida, viramos fantoches ou de terceiros ou do destino. A única forma de
virarmos o jogo ao nosso favor é avaliarmos as lições que estes fatos podem nos
trazer e seguir adiante, fazendo as mudanças necessárias para que isto não
aconteça de novo ou impacte tão contundentemente. Às vezes, a dor poderá ser inevitável, mas
aceitá-la como componente natural da nossa existência permitirá que o golpe não
seja tão traumático assim, mas passageiro.
Arrependimento
não mata, constrói, quando ele não é só um lamento, mas sim um
aprendizado. Sacou?
APOLO.