sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Paz, amor, saúde e outras mentiras

Uma das maiores mentiras do ser humano fica evidente nesta época de fim de ano. Se são todos pela paz, pelo amor, pela saúde, etc. então porque vivemos num mundo com guerras, desamor e doenças? Sabendo que a nossa realidade mundial é o resultado coletivo de milhões de decisões individuais então, chegamos à conclusão de que tem muita gente passando-se falsamente por pacifista, amoroso e sadio.

Espera-se que o leitor deste blog não se encontre na categoria dos que colocam a culpa dos dissabores da vida no governo, no sistema econômico, no destino, no diabo, em Deus, etc. O responsável por tudo aquilo que tem lhe acontecido até agora se encontra neste momento bem em frente à tela do computador e, de uma maneira ou de outra, essa mesma pessoa acabou contribuindo com a sua parcela de culpa com o que coletivamente acontece na sua família, no seu bairro, na sua cidade, no seu país e no mundo.

Socialmente nos comportamos criando grupos de identidade ou de interesse comum com o propósito de atingirmos um objetivo de maneira mais eficiente. Gangues, empresas, partidos políticos, igrejas, clubes, países têm este princípio básico de constituição. Entretanto, o ser humano aproveitou este conceito para criar um ser etéreo o qual pode ser responsabilizado por todas as falhas, livrando o indivíduo da sua cota de responsabilidade.

Certamente você já foi a uma reunião onde ouviu um participante dizer “a empresa decidiu...” Bem, a empresa não existe, a empresa não decide, a empresa não acerta nem erra. As pessoas que representam a empresa ou têm poder para decidir é que decidem, acertam ou erram. Claro que colocar as decisões dando o nome para cada gerente, diretor ou executivo provocaria um clima instável na empresa, mas uma coisa é falar “a empresa decidiu...”por motivos políticos, e outra é imaginar que essa tal de empresa realmente exista e que tem vontade própria podendo ser responsabilizada pelas falhas e louvada pelos acertos.

O paralelo acima se aplica também para a sociedade como um todo. A sociedade não existe, trata-se de um conceito abstrato para identificar o somatório dos indivíduos. As ações da sociedade como um todo refletem o somatório das decisões e ações dos membros que a compõe. Por este princípio indivíduos pacifistas gerarão uma sociedade pacifista, indivíduos amorosos gerarão uma sociedade amorosa, e por aí vai. Mas o que é que vemos na realidade? Sociedades com alto índice de violência, com diferenças sociais, com guerras, etc. Curiosamente vemos também que se colocarmos este tema seguindo a linha de raciocínio até aqui desenvolvida iremos obter como resposta do interlocutor algo como “as pessoas são pacifistas sim, mas os líderes, os donos do sistema têm interesses maiores e isto nos leva a uma sociedade com guerras”. Como ditaduras são cada vez mais raras, este raciocínio cai por si só. Mesmo numa ditadura este raciocínio não se sustentaria, basta lembrar que a ditadura no Brasil foi instaurada com o apoio da população que acreditava seria melhor do que aderir ao comunismo... mas essa é outra história.

Discurso é uma coisa, realidade é outra. Antes de começar a pensar no clichê dos políticos pense em você mesmo. Caso lhe perguntassem o que classificaria como as 5 coisas mais importantes na sua vida, o que você responderia? Amor? Saúde? Paz interior? Dinheiro? Seus filhos? Faça a sua lista. Muito bem. Agora faça uma análise do seu tempo e veja o quanto tem se dedicado para aquilo que você destaca como prioridade. Já sei, vai dizer que o trabalho dedica mais tempo por uma questão de obrigação então a quantidade de tempo não conta. Mude o parâmetro então, dentro daquilo que é considerado como prioridade para você contabilize as suas conquistas mais recentes, por exemplo, se você colocou “amor” como a sua primeira prioridade enumere as vezes em que você praticou amor ultimamente, não estou me referindo a esse amor “impessoal” que outros chamam de caridade, mas de amor para perdoar quem ofende, dar sem esperar em receber, não se preocupar com os seus próprios interesses, etc. O resultado desta contabilidade é compatível com o que você mesmo chamou de prioridade? Humm.... Vamos combinar um conceito então? Prioridade na sua vida não é (necessariamente) aquilo que você declara ser prioridade, mas sim aquilo que você se dedica com mais ênfase e eficiência para conseguir frutos, vitórias, metas, etc.

Prioridade para a sociedade também é aquilo que ela conquista com mais eficiência, aquilo que o conjunto de indivíduos tem obtido devido à ênfase que tem dado nas suas vidas. Cartões com desejos de paz, amor, saúde, são unanimidade neste fim de ano, mas a prática disso certamente tem se demonstrado outra. Enquanto acharmos que a culpa desta disparidade é do governo, do sistema, dos outros as coisas continuarão as mesmas. Quem sabe uma boa resolução de ano novo seja acertar a sua lista de prioridades com a sua lista de feitos e realizações? Se isso vai mudar o mundo eu não sei, mas quem sabe se você conseguir mudar o seu mundo seja o único passo que realmente interessa a você. Só assim talvez, quando somarmos as realidades individuais veremos que “a sociedade” mudou também.

FELIZ ANO NOVO!

APOLO