domingo, 16 de novembro de 2008

Lidando com pessoas “importentes”

Como já falei anteriormente a maioria do que escrevo aqui vem de experiências que me levaram a re-pensar o que havia aceitado como uma resposta automática e aparentemente correta. Neste caso o acontecido se deu no meu trabalho, estava lidando com uma situação rotineira, tentando atender uma reclamação de um cliente, procurei ser o mais profissional possível e enviei uma correspondência explicando qual seria o procedimento mais adequado para atender às suas solicitações. Recebi uma resposta grosseira dizendo que não aceitaria as minhas sugestões, que faria as coisas do jeito que ele achava que deveriam ser e que não aceitava réplicas. Estava diante de um cliente importante e ao mesmo tempo diante de um ser prepotente, uma pessoa IMPORTENTE. A primeira coisa que veio a minha cabeça ao ler a resposta foi a imagem da pessoa vestindo roupas infantis com um pirulito na mão e batendo pezinho de raiva. Bom, criança a gente não deixa fazer pirraça sem que leve um corretivo então a segunda coisa que pensei foi como articular e efetivar o devido puxão de orelhas. Foi ai que veio o re-pensar, finalmente decidi que a atitude mais sábia seria a de não fazer nada.

Levar desaforos de clientes ”importentes” é uma das coisas mais comuns para quem tem que lidar com eles no seu dia-a-dia. Lembro que uma vez na fila do cinema um senhor acompanhado de uma criança pré-adolescente gritava com o bilheteiro porque teria que assinar um documento permitindo o filho assistir um filme acima da sua faixa etária de censura. “Que palhaçada é essa!”, “chame o gerente para falar comigo!” berrava ao mesmo tempo em que batia com a mão no balcão. O gerente explicou calmamente que teria efetivamente que assinar o documento, ele assim o fez e jogou o papel para dentro da bilheteria, saiu resmungando. Não consigo lembrar do gerente nem do bilheteiro mas não esqueço da cara do idiota que conseguiu dar um péssimo exemplo para o filho e que fez questão de mostrar-se um imbecil na frente de todos os que estavam na fila. Foi exatamente essa lembrança que me fez decidir não responder.

Óbvio que a reposta mal educada não veio só para mim, ela foi copiada para várias outras pessoas, numa rápida checagem com os outros destinatários pude perceber que eles eram na realidade “as outras pessoas da fila”. Ao igual que o pai destemperado, que terá que continuar assinando o documento cada vez que quiser ir ao cinema com o filho menor, esse cliente terá que continuar lidando comigo se quiser continuar comprando o que tenho para vender, como a decisão de compra não passa pela sua alçada outros negócios serão inevitáveis. A única coisa concreta que mudou foi o conceito desse cliente perante os meus pares. No final fiquei até com pena da pessoa, não havia uma única alma que a defendesse ou que tentasse ser condescendente com o seu ato. Visto isto me perguntei, será que preciso responder a este ataque? O mal que tinha que ser feito já havia sido feito, e pela própria pessoa, mas para a sua imagem e reputação. Que corretivo você precisaria dar em quem consegue dar um tiro no próprio pé?

“Não levo desaforo para casa” nessa frase queremos dizer que se alguém “nos dá um fora” nós não devemos permitir, afinal de contas “quem ele pensa que nós somos?”. Veja agora deste ângulo, analisemos o sucedido na fila do cinema, o bilheteiro e o gerente não precisaram devolver o desaforo e serviram de exemplo de como lidar com clientes “importentes”, mas o cliente passou a ser o idiota que serve de referência de mau exemplo para todos. Visto assim quem está levando o desaforo para casa é o próprio “desaforado” e não as suas supostas vítimas.

Outra idéia que poderia passar pela nossa cabeça é a de que ao deixarmos de dar o troco a um desaforo recebido estaríamos passando a imagem de submissos ou subservientes. A sua imagem não depende da atitude de uma criança velha que bate perna e diz impropérios para você, a sua imagem depende de um conjunto de atitudes e de até como você vai lidar com pessoas desse calibre. Do mesmo jeito a imagem da outra pessoa não depende da resposta que você por ventura possa dar. Qualquer resposta que você der não vai ser absorvida por alguém que não está a fim de ouvir e aprender, mas de auto-afirmação. Então para que perder o seu tempo? E finalmente, certamente a pessoa esperava por uma resposta, a qual não teve, este fato não deixou de ter um gostinho nada louvável em mim, fico imaginando o cliente “importente” sentido-se frustrado igual a criança mimada que reclama por atenção e não a recebe, deve ter ficado com mais “raivinha” ainda, e o melhor é que eu não precisei fazer nada. Têm coisas que realmente não têm preço.

APOLO

domingo, 9 de novembro de 2008

O fim do mundo está próximo?

Aquecimento global, desastres climáticos, terremotos mais freqüentes, guerras étnicas, quebra financeira mundial, banalização dos princípios morais, etc. Será que isso tudo nos leva a crer que efetivamente estamos nos últimos dias da história do homem na terra?

A reposta a essa pergunta só pode ser uma destas três: Sim, não ou não sei. Se você é uma pessoa que já tem opinião formada, ótimo! Não tenho a menor intenção de mudá-la. Mais importante do que dizer qual é a minha opinião ou de tentar mudar a sua acredito ser falarmos um pouco sobre o que você está fazendo ao respeito disso.

Se você acredita que sim, por convicções religiosas ou porque se tem como um grande estudioso dos profetas, sinais, estrelas, oráculos, seja lá o que for, legal! Agora pergunto: e daí? De que tem lhe adiantado saber (ou crer) que o fim está próximo? Este conhecimento lhe deu a certeza que no fim você seria resgatado (abduzido, arrebatado, etc.) e levado para outro lugar onde não haveria os problemas que enfrentamos nesta Terra chula e vulgar. Perfeito! Conseguiu paz no seu coração, fez uma esperança virar certeza pelo instrumento da fé, maravilha! Mas, futuros apartes após essa tomada de consciência você acordou no dia seguinte com as mesmas contas para pagar, a obrigação de chegar cedo ao trabalho, os filhos exigindo coisas, o(a) cônjuge pedindo mais atenção, as notícias do jornal falando o mesmo. Esta parte poderia ter até trilha musical do Chico Buarque: “todo dia ela faz tudo sempre igual...”. Seria bom se pudéssemos ir ao banco e dizer ao gerente “olhe ontem eu descobri que o mundo vai acabar logo, portanto não adianta me cobrar aquele empréstimo porque o dinheiro não vai ter mais nenhuma utilidade”. Bom, deu para perceber que mesmo tendo conseguido o alívio de saber que no futuro você será resgatado, no presente não houve nenhum fato que efetivamente mudasse o seu dia a dia. A não ser que você decida virar um arauto do fim dos tempos e passe a viver de doações ou cobre pelas suas palestras, essa mensagem apocalíptica não ajudará a suprir suas necessidades financeiras. A única maneira que eu acredito que a convicção de que o fim está próximo pode lhe ajudar na prática é se você se convencer que as coisas ficarão cada vez mais difíceis e, portanto você precisa trabalhar mais agora, juntar mais recursos agora, criar condições agora de poder sustentar-se quando o Apocalipse se concretizar. Caso você faça parte do grupo de pessoas que acredita que o fim está tão próximo que não precisa se preocupar com o futuro, parabéns! Você faz parte do grupo que um dia estará certo! O problema, é que existe a probabilidade de você não estar presente nesse grupo quando a predição se confirmar e, enquanto isso, a única coisa que você conseguiu dar fim foi ao seu crédito, às suas realizações e a todo o conjunto de experiências gratificantes reprimidas pela falta de uma expectativa de futuro. A sua certeza de que o fim estava próximo vai conseguir dar fim ao seu futuro próximo se você agir como se o futuro não existisse mais.

Caso você acredite que o fim não está próximo e que essa história toda não passa de fanatismo religioso ou de conversa de bruxo esotérico, legal! Também não vou querer aqui que mude de opinião, mas pergunto: e daí? Você já parou para pensar por um momento que existe a remota possibilidade de você estar errado? O problema não é estar errado, o problema é: o que aconteceria com você caso você estiver errado? O raciocino aqui é o mesmo da decisão de jogar roleta russa. A maior probabilidade é de que ao apertar o gatilho o tiro não dispare, o que leva você a não jogar roleta russa não são as chances de ganhar mais sim a conseqüência de estar errado. Por esta lógica, não importa o quanto você está preocupado hoje com o seu dia a dia, a melhor coisa que você tem a fazer é começar a tomar atitudes preventivas que aliviem a sua barra num suposto julgamento final. Quanto mais altruísta e amoroso com os outros você for agora, melhor condição constrói para si no futuro improvável e o que é melhor: começa a ser uma pessoa melhor agora. As suas contas continuarão sendo pagas já que você continuará sendo uma pessoa lógica e racional, focada em resolver os seus problemas atuais, manter a sua reputação de bom pagador, etc. A única diferença é que ao tentar marcar pontos para o futuro tendo atitudes menos egoístas e mais compreensivas com os outros passará desde já a ser uma pessoa mais amada e com benefícios para sua alma. Você pode estar pensando: “Eu não acredito em fim do mundo, mas ao mesmo tempo eu já tento ser amoroso(a) e compreensivo(a) com os outros, tenho até religião, mas a minha religião não acredita em fim do mundo, então nada disso se encaixa em mim”. A não ser que a sua religião proíba acesso a outros livros recomendo que leia um pouco sobre o que se apregoa serem sinais do fim dos tempos e faça uma checagem com o cenário atual, no mínimo as suas convicções serão abaladas, garanto.

Se a sua resposta à pergunta inicial (se acredita estarmos no fim do mundo) foi “não sei”, permita-me dar-lhe um conselho: Procure saber, forme opinião ao respeito e igual a jogo de tabuleiro depois volte duas casas se a sua opinião for “sim acredito” ou então somente uma casa se a sua resposta for negativa. Tem muita coisa acontecendo por aí para você ficar fora dessa.

APOLO