segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Refúgios de Infelicidade

A não ser que você seja uma pessoa declaradamente depressiva, uma das suas preocupações deve ser a busca pela felicidade, e sobre isto já se falou muito nos livros de auto-ajuda. Mas, enquanto você busca a sua felicidade, o que você faz com a sua infelicidade? Qual a maloca onde você decidiu esconder isso? Será que escondê-la é a melhor saída? Será que a nossa busca deve ser pela felicidade ou pela eliminação da infelicidade?

Sem maiores polêmicas. Vamos usar o conceito de que a felicidade se dá numa vida plena, onde o ser humano pode se sentir realizado nos vários aspectos da sua vida. Vivemos diversos papéis. Somos pais, filhos, namorados, profissionais, amigos, etc. É mais do que sabido que o sucesso num único aspecto não garante a felicidade, e diversos exemplos de estrelas que morrem por overdose ou com relacionamentos complicados nos mostram como a felicidade não anda necessariamente junto com o sucesso profissional.

O tempo que você dedica a um dos aspectos da sua vida pode ser um bom apontador do esconderijo que você encontrou para ocultar a sua infelicidade em outras áreas. Esta é a mecânica mais comum utilizada por nós humanos. Viramos “workaholics” e claro, colocamos a culpa na pressão do trabalho, no chefe, no cliente, na necessidade de dinheiro, etc. Nunca iremos admitir que estamos viciados em trabalho porque, dessa maneira, não haverá tempo para lidar nem lembrar dos outros lados da vida, onde não estamos sendo eficientes e felizes. Caso o sucesso profissional for alcançado, e com isso a sua respectiva recompensa financeira, será quase impossível aceitar que a nossa dedicação excessiva ao trabalho é um refúgio de infelicidade. Neste ponto se faz necessária uma observação. Existem coisas que precisam de bastante dedicação, trabalho é um bom exemplo. Nunca conseguiremos realização profissional se não dedicarmos bastantes horas de nossos dias ao trabalho, como o dia tem um número limitado de horas então, não resta muito tempo para as outras coisas. Como reconhecer então se estamos nos dedicando o necessário ao nosso trabalho ou virando um “workaholic”? Resposta: Percebendo há quanto tempo estamos adiando problemas que sabemos que precisamos resolver. Faz quantos meses você sabe que precisa ter “aquela conversa” com o seu filho e a mesma não acontece? Faz quanto tempo que o seu relacionamento entrou em compasso de espera, e você não faz os agrados que você sabe a outra parte espera? Faz quanto tempo que aquele livro está ali na prateleira esperando ser lido mesmo você sabendo que ele é importante para você? Faz quanto tempo que você vem adiando aquela visita ao médico ou dentista? Agora você pode estar pensando, “definitivamente eu não sou viciado em trabalho, mas também sei que, como todo mundo, tem algumas coisas importantes que venho adiando, então isto não se aplica a mim”. Será? Como disse, trabalho é um dos esconderijos, cabe a você descobrir qual é o seu. Pode ser a tela da televisão, a sua dedicação excessiva aos seus filhos, à sua religião ou à sua malhação, etc. Geralmente é algo que lhe traz prazer, de outra forma não serviria de esconderijo. Este esconderijo é tão perfeito que ele se esconde até de você mesmo, e dificilmente você o perceberá como sendo um refúgio de infelicidade a não ser que o busque ativamente. O problema é que, como estamos condicionados a buscar a nossa felicidade e sabemos que estas atividades-refúgios nos trazem alegria, nos dedicamos cada vez mais a elas e com isso aumentamos o buraco de infelicidade nos outros aspectos da nossa vida fortalecendo a estrutura do nosso esconderijo de infelicidade. A minha proposta aqui é tentar traçar uma busca da felicidade não através da prática daquilo que tem nos dado prazer e satisfação, mas sim pela identificação daquilo que não está resolvido e nos causa frustração, para assim poder ser trabalhado e melhorado. O paradigma a ser quebrado é que a sua felicidade tal vez não esteja somente na procura por aquilo que lhe dá prazer, mais sim pela solução daquilo que tem lhe trazido insatisfação por não ter sido realizado. Tire esses vultos do esconderijo onde os colocou, lave-os e estenda-os ao sol e comece a viver uma vida feliz desempenhando não somente um ou poucos papéis com eficiência, descubra o prazer de ter uma vida plena e realizada nos outros personagens que a vida lhe reservou. Deus nos fez para termos uma vida, rica e abundante. Lembre-se, abundância é quando temos bastante de várias coisas, quando temos bastante de uma só coisa é excesso, sobra, vício, compulsão, neurose, em fim, refúgio de infelicidade.

APOLO.