segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Velhos Homens, Anos Novos

Este ano não vai ser,
Igual àquele que passou,
Eu não brinquei,
Você também não brincou,
Aquela fantasia,
Que eu comprei ficou guardada,
E a sua também, ficou pendurada

Mas este ano está combinado,
Nós vamos brincar separados
. – ( Até 4ª feira – Marchinha de Carnaval)


A sensação que temos no dia 1º de janeiro de todo ano é a de estarmos recomeçando um novo ciclo, isto não está do todo errado, muitas coisas na nossa vida têm período anual: escola, estações do ano, férias, idade, campeonatos de futebol, etc. etc. Da mesma forma sabemos que tempo é mera referência, os dias seguirão passando um atrás do outro independente da nossa métrica, e mesmo que você acredite que tudo acabará em 2012,os dias continuarão seguindo a sua seqüência soberana após esse escatológico evento.

Aproveitamos o fim do ano para renovar promessas, avaliar situações e até fazermos resoluções. A não ser que você seja uma pessoa extremamente metódica e disciplinada as suas resoluções não durarão. Tudo o que você decidiu na última virada de ano está ai de testemunha. Mas gostamos de nos enganar, adoramos essa brincadeira de fingir-nos de decididos, resolvidos, confiantes e, sobretudo de que com essa atitude iremos conseguir as mudanças propostas.

O mais interessante em fazermos uma lista de resoluções de ano novo está no fato de acreditarmos que as nossas atitudes precisam de data marcada. Primeiro sinal característico de decisões que não terão continuidade. Dietas que começam na 2ª feira dificilmente chegam na 6ª feira da mesma semana. O que procuramos com essa mecânica é a sensação de efetivamente estarmos sendo pró-ativos quando na realidade não fazemos nada de diferente. Decisões sem ações não são decisões são ESPECULAÇÕES.

Todos nós temos uma lista de coisas para mudar, sejam coisas simples como arrumar a bagunça do armário ou mais complexas como acabar um relacionamento ou mudar de emprego. Confortamo-nos ao pensar que estando conscientes dessas mudanças já damos um grande passo. O prazer que este conforto nos dá é semelhante ao prazer que as drogas oferecem, são reais, passageiros e podem viciar, fazendo com que nos acomodemos na “decisão” tomada e nunca passemos a agir diferente. Essa ilusão é tão forte que oculta uma decisão efetivamente tomada por nós: a de continuarmos com o “velho”. A cada dia que as mudanças não acontecem estamos decidindo (e agindo) dando seguimento àquilo que nós dizemos que iríamos mudar. Estamos decidindo NÃO MUDAR, mas nos enganamos dizendo que já decidimos mudar. Nós somos engraçados, não?

Criamos as mais variadas desculpas para justificar por que ainda não mudamos efetivamente. Quanto mais inteligentes formos, mais estruturadas e verdadeiras serão as nossas desculpas, mas nunca passarão de meras desculpas. Entretanto há situações em que, efetivamente, se faz necessário esperar para iniciar uma mudança. Entenda esperar como “gestar”, essa é a melhor maneira de não colocar a espera como escudo. Durante a espera alguma coisa tem que estar acontecendo, fatos novos têm que ser gerados, se não há nada de novo que sirva como variável de decisão a ser acrescentado, então a sua espera é mera desculpa para a sua omissão, sua covardia de mudar, seu medo, esses sim verdadeiros propulsores da sua decisão de continuar com o antigo, e por mais que você apregoe que está esperando algo acontecer, a decisão que vem sendo tomada não é a de esperar e sim a de reforçar o que você já vem fazendo, independente de data, situação, temperatura, pressão, etc.

A nossa capacidade de mudar está intimamente ligada com a nossa capacidade de continuarmos jovens, independente da idade. Canso de ver velhos com menos de 20 e jovens com mais de 60. Claro que não precisamos mudar tudo a toda hora, mas todos nós sabemos o que precisamos mudar, cada um com o seu cada um, como diria um amigo meu. É a renovação que faz de nós jovens, pessoas novas passando pelos anos novos a cada 12 meses, do contrário seremos pessoas velhas nos anos novos.

APOLO.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Poder das Marolinhas, Ondas e Tsunamis

Peguei uma onda maneira. Dei "cutback", "hang five, "hang ten" Eu sou melhor surfista da minha rua...” (Pop Star – de João Penca e Seus Miquinhos Amestrados)

Em abril de 1967 um professor americano realizou uma experiência com seus alunos do 2º ano do High School (Ensino Médio no Brasil). Com o pretexto de melhorar a produtividade e o aprendizado ele combinou com os alunos que fortaleceriam 4 conceitos: Disciplina, Corporativismo, Atitude e Orgulho. Estabeleceram-se metas e formas de tratamento que privilegiassem esses pontos, coisas como sentar-se eretos, não conversar em sala de aula, dirigir-se ao professor começando com “Senhor...” também foram criadas saudação e logo-marca próprias, que prontamente os alunos passaram a usar com orgulho. O desempenho da turma efetivamente melhorou e em poucos dias boa parte da escola estava envolvida na “Terceira Onda”, nome dado a esta experiência. Os que não queriam fazer parte do movimento passaram a ser hostilizados e vistos como “fracos”. Ao perceber que as coisas estavam saindo do controle o professor convocou todos os alunos dizendo que a “Terceira Onda” era na realidade um movimento nacional e que seria apresentado, pela televisão, o candidato presidencial do “Partido”. Os alunos foram em peso à apresentação trajando os uniformes e símbolos do movimento. A grande surpresa foi ver o professor apresentar um filme sobre o nazismo dizendo que o que ocorrera na escola respondia a pergunta sobre como os alemães permitiram as atrocidades de Hitler, sendo elas tão obviamente erradas. A experiência começou numa 2ª feira e acabou na 6ª feira da mesma semana e já foi tema de filmes e de diversos estudos.

Vendo assim, de fora, tendo a história toda contada, não lhe parece óbvio que o que estava acontecendo era nitidamente errado? Não passa pela sua cabeça: Mas como é que eles caíram nesse jogo? Alguma coisa está levando você a pensar que certamente, nos tempos atuais, isso não aconteceria; ou então que isso é “coisa de americano!”. Se algum destes pensamentos passou pela sua cabeça você acaba de se colocar na turma de alunos cujos questionamentos motivaram a experiência toda.... Ops! Mas foram estes alunos os mesmos protagonistas da “Terceira Onda”...

Uma das mais instigantes características da nossa humanidade é que somos seres individualistas que funcionamos coletivamente. Freud já falou muito sobre “Psicologia individual” e “Psicologia Social” e como essa não é a minha área não darei “pitaco”. Somente gostaria de atentar para o fato de que as “ondas”, para existirem, precisam de informação sendo disseminada, opiniões sendo espalhadas e validadas por outros que vão criando volume e direção a medida que se auto-alimentam. Quanto mais a informação lhe for acessível, mais provável será que você encontre uma onda para surfar.

Facilidade, estar na moda, sentir-se atualizado, não sabemos ao certo qual é motivo que nos leva a surfarmos rapidamente nas ondas que se apresentam. Um fato é paradoxal, perdemos um pouco de personalidade ao surfarmos na onda coletiva e ao mesmo tempo sentimos que estamos reafirmando o nosso caráter ou a nossa personalidade quando marcarmos como nossos os argumentos que já se encontram por aí. Acreditamos que reafirmamos a nossa individualidade aderindo a um fenômeno coletivo. Engraçado, não?

A graça acaba quando vemos que multidões, cidades e países inteiros podem perder o senso crítico ao executar o movimento de adesão. O que aconteceu na escola americana, e em maior escala na Alemanha, continua acontecendo aqui mesmo, agora mesmo. Tal vez as conseqüências sejam menos graves, mas as características da formação do fenômeno são exatamente as mesmas. A paranóia da gripe suína fez com que escolas adiassem aulas, aparelhos de ar condicionado fossem desligados, máscaras cirúrgicas se esgotassem, viagens canceladas, etc. Um verdadeiro tsunami que se iniciou com um fundo de verdade e contando com as boas intenções dos participantes (exatamente como começou a Terceira Onda), mas que não correspondia a verdadeira dimensão da realidade. A epidemia de dengue certamente atingiu mais conhecidos seus do que a apocalíptica gripe AHN1. Pelo menos uma dezena de doenças assola o mundo todos os anos com números maiores que os atingidos por essa gripe. Se fosse o Lula diria que “a tsunami virou marolinha”, rsrs. Recentemente a opinião pública mais uma vez condenou unanimemente a faculdade que “esculachou” a mocinha de mini vestido. Jornais, revistas, blogs, telejornais, programas de entrevistas, etc. etc. Todos saíram em defesa da “injustiçada”. Quem teria coragem de defender o indefensável e tentar argumentar contra a onda que se formou? De nada adiantou outros personagens que estavam lá, no momento do ocorrido, narrarem que a história estava contada pela metade, de nada adiantou perceber que “a vítima” estava mais preocupada em não permitir que seus 15 minutos de fama acabassem. Mais uma vez havia um fundo de verdade, a atitude daquelas pessoas não fora correta, mas embora não justifique a grosseria dos alunos, a atitude provocativa e acintosa da “vitima” também não foi prudente e recatada. O linchamento moral que ocorreu fez com que milhares de estudantes passassem a ter uma mancha no currículo, independente da qualidade acadêmica da instituição, ser da Uniban passou a ser similar a carregar a estrela de Davi na Alemanha Nazista. Já sei, balançou a cabeça e pensou: “Exagero!”.... Acertei? Você não está só, a Igreja Católica também pensou que “não era bem assim” o que acontecia com os Judeus naquela época. Se ela levou mais de 50 anos para reconhecer a sua miopia tal vez você não precise desse tempo todo. Chocante, não? Mas a idéia é essa mesma. Inevitavelmente iremos continuar surfando em ondas, e a cada dia com maior freqüência, e já que é inevitável façamos igual a surfista profissional, escolhamos bem as ondas que iremos pegar. Pare, pense, olhe, questione e escolha, só isso!

Apolo.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Jogando Dados com Deus – Sobre a Sorte, o Destino e Afins

"Considerando que o tempo é uma variável física então ele pode ser previsto através de sofisticadas equações, e se ele pode ser previsto, então não tem nada que possamos fazer para mudá-lo”. Este raciocínio fundamentou um ramo da Física chamado de Determinismo Científico. Um dos seus simpatizantes era Albert Einstein que, num rompante, ao ver mais uma tese fracassar tentando provar “as verdades” dessa ciência, exclamou a sua célebre frase “Deus não joga dados!

Os defensores do Determinismo mantêm a esperança de que as “variáveis escondidas”, necessárias para provar que estão certos, ainda serão descobertas. Antes que esta esperança se espalhe por aí, cabe lembrar que a Física Quântica já se encarregou de jogar para a obsolescência as teorias do Determinismo Científico.

Sendo verdade que o futuro nunca poderá ser previsto matematicamente, então podemos dizer que o universo funciona aleatoriamente? Obviamente que não. Existem Leis que regem tanto a natureza física quanto a natureza espiritual. As de natureza física são mais facilmente comprovadas e tem toda uma ciência para isto. As de natureza espiritual são temas das doutrinas religiosas ou das “filosofias de vida”, que é o outro nome que os não-religiosos dão às suas religiões. Nós humanos navegamos no meio destes dois mundos, o físico e o espiritual, por esta razão estamos sujeitos às leis destes dois universos. Desta ululante afirmação podemos deduzir como é sem-sentido levar uma vida dedicada somente a uma das naturezas pelas quais transitamos. A resultante dessas leis é a nossa realidade concreta, e depende da interação do físico com o espiritual, num verdadeiro caleidoscópio que se movimenta criando novas realidades a cada pequena mexida. Se não podemos ter certeza absoluta do resultado final com total previsibilidade, como agirmos então neste jogo da vida que é o nosso dia-a-dia?

Já que Einstein estava errado e que efetivamente Deus joga dados (desculpem-me os religiosos, misturar Deus com jogatina parece uma heresia, mas entendam como tendo o significado de que, não existe determinismo no nosso mundo), então uma resposta para a pergunta acima seria: “Vamos jogar dados com Deus, então!”.

Comecemos o jogo: Temos dois dados (não viciados, claro!), as combinações possíveis são:




Não sabemos com certeza que combinação sairá ao jogarmos os dados, mas podemos saber que as combinações mais prováveis serão as de soma 6, 7 e 8. Se tivermos que nos posicionar sobre que soma esperar, logicamente o faremos num destes três números. Isso não quer dizer que o resultado não possa ser soma 2 ou soma 12, isto será absolutamente possível e dentro das probabilidades.

A metáfora aqui é que na vida é exatamente igual. Nunca teremos certeza absoluta sobre o quê e quando algo irá acontecer, mas podemos avaliar e nos posicionar dentro do que é mais provável de acontecer. O nosso campo de probabilidades depende da nossa preparação, do nosso esforço, do nosso cuidado, tanto físico quanto espiritual. Este é o grande poder que nos foi dado, o de podermos CRIAR o nosso próprio espectro de maiores possibilidades. Sempre lembrando que, igual aos dados, o resultado das combinações não está só em nossas mãos. No caso dos dados o resultado não depende somente da força com que se lançam as peças, depende também da dureza da superfície e do próprio material com que os dados são feitos. Assim como a força com que você faz o lançamento vai depender do seu estado emocional, que pode ter sido afetado interagindo com outras pessoas, ou do suor da sua mão que pode depender da temperatura do ambiente e ainda das vezes que você chacoalhou os dados. Mesmo que você consiga controlar todas as variáveis aqui enumeradas o resultado ainda será dentro de um faixa esperada de números.

Na dinâmica das nossas vidas estamos o tempo todo criando cenários de possibilidades pelos nossos atos, decisões e interações com os outros seres e fatores, tanto físicos como espirituais. Estamos constantemente vendo o resultado das interações e combinações que foram feitas no passado junto com as que são feitas no presente e que ora se consolidam para formar a nossa realidade concreta.

O fato de nos posicionarmos esperando um 6, 7 ou 8 e obtermos um 2 não quer dizer que estávamos pré-destinados a esse número, o nosso “destino” era de 2 a 12, sendo 6,7 ou 8 os resultados mais prováveis. Igual ao jogo de dados, obter outro número não significa que “forças ocultas” conspiraram contra você. Pode significar, talvez, que você sem perceber construiu outro cenário de maiores possibilidades, o qual a sua miopia nega-se a enxergar, ou simplesmente que esse outro resultado fazia parte dos também prováveis no jogo da sua vida. Creditar ao destino o PORQUÊ de ter obtido outro resultado equivale a esperar as “variáveis ocultas” que os ultrapassados físicos deterministas esperam em vão descobrir. O nosso poder criador não permite que o destino exista. O processo de criação implica dizer que TEM que ser novo, original, gerado, imaginado, etc. Esta é a grande dádiva recebida, e ao afirmar que ela não existe negamos a grandeza do nosso criador. Criamos de forma física, através de atos, decisões, fatos e da interação com o mundo que vivemos; criamos de forma espiritual, através de orações, lutas espirituais e interações com o Ser Superior e todo o seu Reino, a resultante é exatamente onde você está agora.

Tiger Woods, o golfista que é atualmente o esportista mais bem pago do mundo, uma vez foi perguntado se ele acreditava que o seu sucesso era decorrente de sorte ou de treino. Ele respondeu, “É sorte, e quanto mais eu treino mais sorte eu tenho”. Entendeu?

APOLO.

sábado, 24 de outubro de 2009

Unificando As Nossas Dualidades

The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde é uma novela clássica de terror, escrita ao fim do século XIX, que alcançou incrível sucesso ao ser lançada. Acredito que o grande mérito do autor (Robert Stevenson) foi o de colocar herói e vilão na mesma personagem, até então as histórias tinham heróis e vilões separados. Mesmo com a coragem do ineditismo esta dualidade foi tratada seguindo uma tranqüilizante abordagem de aberração, algo que se encontrava patologicamente dentro de uma mesma pessoa, mas que não deveria estar assim. Recentemente o cinema nos trouxe uma história similar: “O curioso caso de Benjamin Button”, desta vez juventude e velhice eram os antagônicos que habitavam o mesmo corpo. Para o nosso “conforto” mais uma vez tratada como bizarrice, o castigo do personagem foi não poder viver o grande amor da vida dele.

Que precisamos de arquétipos já foi bastante explicado pela psicanálise, a minha reflexão não vai ser sobre a existência deles, nem sobre como nós humanos precisamos de referenciais e rótulos para nos sentir confortáveis e seguros tanto socialmente como emocionalmente. Sinto-me compelido a divagar sobre o turbilhão de sentimentos, medos, inseguranças, condenações e outras coisas mais que nos invadem quando descobrimos, sem negativas infantis, de que tanto o Jekyll como o Mr. Hyde podem estar habitando dentro do nosso ser. Tá bom, isto é um exagero, não somos todos homicidas potenciais, mas carregamos nos nossos interiores sentimentos bons e sentimentos ruins e por razões de auto defesa dizemos que essas coisas ruins são provocadas por situações exteriores a nós, as tratamos como reações e nos negamos a aceitar que esse lado ruim também faz parte do nosso ser. Erro enorme que não nos permite lidar com este fator da nossa humanidade. Basta ver como para a mesma situação uma outra pessoa reagiria diferente, a nossa resposta é ditada pela nossa personalidade, pela nossa índole e não pela situação em si. Resumindo, nós temos atitudes ruins, egoístas, desonestas, traiçoeiras, vulgares, violentas, etc. porque parte da nossa pessoa é assim e não por culpa da situação ou de terceiros.

O primeiro passo para lidar com isto é reconhecer que não existem duas pessoas numa só. Esse lado que a gente não gosta é nosso mesmo e igual a um alcoólatra que não bebe temos que afirmar que essa característica faz parte da nossa personalidade. Estarmos cientes da nossa condição nos deixa alerta para quando a oportunidade de agir negativamente surgir, o fato de não vermos o nosso comportamento como reação e sim como opção joga a responsabilidade nos nossos ombros e nos permite pensar um pouco mais antes de (re)agir.

A boa notícia é que embora tenhamos várias dualidades dentro de nós não precisamos ter uma visão maniqueísta sobre elas. Certamente aquelas que nos fazem mal ou que não nos trazem uma boa convivência com os nossos parceiros, amigos, namorados, cônjuges, etc. devem ser tratadas como vícios e encaradas como desafios a serem vencidos. Existem outras que devem ser desfrutadas, e claro, no seu devido lugar e ao seu devido tempo. O coitado do Benjamin Button não deveria ser visto como uma aberração. Se a idade cronológica vai aumentando e você continua tendo sonhos, vontade de realizar coisas diferentes, pré disposto a mudanças, apaixonado pela vida e pelo sexo oposto, com muito mais disposição que muito garotão (ou garotinha) por ai, por que condenar-se ou deixar- se abalar por comentários sobre fazer coisas que não estão “de acordo com a sua idade”? (aliás, este comentário sim é coisa de idoso), a sua juventude está ai, presente na sua dualidade unificada e somente vai acabar quando você achar que deve (e se algum dia deverá). Outra dualidade deliciosa que deve ser cultivada e não administrada é a que percebi numa pessoa que tive a chance de conhecer um dia. Falar com ela era como ter aberto contato direto com o povo dos anjos, doce, meiga, cândida, olhava nos meus olhos com sinceridade e ao mesmo tempo com uma timidez corajosa, ao seu tempo esses conceitos todos caíram um por um e uma mulher sensual e completa foi surgindo, bom, vocês entenderam, não vou relatar mais porque o objetivo não é esse, mas torço para que ela não perca essa dualidade nunca!

Encontrar quais são as dualidades que você deve “tratar” e quais são as que você deve cultivar e se orgulhar é um gostoso exercício que talvez fique como resíduo desta leitura. O meu já começou e garanto que estou me divertindo muito. Divirta-se você também. Fica aí o convite.

APOLO

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Os perigos da unanimidade

Ao contrário da polêmica Lei da Evolução das Espécies existe uma Lei de Evolução das Sociedades que pode ser claramente constatada tanto pela história como pela nossa simples observação empírica da realidade. Conquistas sociais como o fim da escravidão, dos preconceitos raciais (pelo menos institucionalizados), a valorização dos direitos das minorias, etc. são evidentes provas disso. Ser contrário um destes avanços implicaria em imediatamente ser chamado de “retrógrado” ou até de “incivilizado”. Temos ai a conceituação do que seria uma unanimidade incontestável.

Movidos por uma estranha mecânica, que certamente a moderna neurociência explica, procuramos unanimidades incontestáveis como referências de conforto no nosso dia a dia, neste processo cometemos erros individuais e, muitas vezes, erros coletivos. Novamente a história se encarrega de nos trazer exemplos: A sustentação do Nazismo na Alemanha, a crucificação de Jesus clamada pelo povo judeu, a revolução cultural chinesa na época de Mao, etc. Nessas ocasiões as multidões convenceram-se de que algo era uma unanimidade incontestável e por esse motivo lançaram mão de meios que posteriormente a história condenou. A forma mais evidente de constatarmos se uma unanimidade está andando para virar um erro coletivo é vermos se na prática dessa “verdade” há processos que ferem a legislação vigente ou se está havendo uma complacência da sociedade com abusos autoritários com o objetivo de cumprir o que nos parece unanimidade. Atualmente a sociedade brasileira assiste a um desses fenômenos. Temos uma unanimidade incontestável que vêm desrespeitando os direitos básicos do cidadão a vista grossa da sociedade: A Lei Seca.

Os benefícios trazidos pela Lei Seca são claros: diminuição do índice de acidentes, menos mortes no trânsito, etc. O problema não está nessas conseqüências benéficas e sim em alguns procedimentos adotados nas ostensivas e circenses blitz (com direito a balões iluminados e tudo). Nestas blitz é exigido que o cidadão se submeta ao “teste do bafômetro”. É um direito constitucional não oferecer prova contra si mesmo, o silêncio ou a negativa em sujeitar-se a procedimento auto-incriminatório não pode ser interpretado como presunção de culpa segundo jurisprudência existente ratificada pela Suprema Corte brasileira. Quem tiver interesse na matéria jurídica sobre o assunto pode ir para: http://www.apriori.com.br/cgi/for/prova-contra-si-mesmo-bafometro-constitucionalidade-t1753.html Na “Operação Lei Seca” caso o condutor se recusar a passar pelo teste do bafômetro a sua carteira de motorista é apreendida e é lavrada a multa como se efetivamente alcoolizado estivesse. Racionalmente somos levados a pensar “se a pessoa recusou-se a fazer o teste é porque efetivamente estava bêbada, então merece ser multada”, entretanto o exercício da cidadania não pode se valer deste expediente. Não se pode prender um morador de rua porque estava olhando fixamente para a máquina fotográfica de um turista, por mais lógico e evidente nos pareça o eventual assalto. É completamente arbitrário, inconstitucional, autoritário e anti-democrático impor qualquer tipo de penalidade a quem se recusar a fazer o teste do bafômetro. Os benefícios obtidos no combate à mistura de direção e álcool têm feito a sociedade como um todo fechar os olhos para este ultraje. Por melhor que nos pareça ser uma Lei não podemos permitir que, na sua aplicação, sejam feridos preceitos que resguardam direitos fundamentais do cidadão. Caso contrário corremos o risco de cair no lugar comum que deu sustentação à perseguição ao povo judeu, aos intelectuais da China, etc. Qual seria a maneira correta de proceder então? Outra qualquer que não fira o exercício pleno da cidadania. Numa época tão cheia de recursos tecnológicos seria muito fácil filmar o suposto infrator de forma que possa ser evidenciado em qualquer fórum o seu verdadeiro estado, alcoolizado ou não, deixando um juiz julgar pelas evidências apresentadas, para ai sim, uma vez comprovada a culpa, infringir as penalidades cabíveis.

Permitir abrir precedentes que firam direitos constitucionais em prol de uma “unanimidade incontestável” significa correr o sério risco de permitir a volta de práticas ditatoriais e déspotas, coisas das quais a sociedade precisas estar cada vez mais distante.

APOLO.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

VIVENDO INTENSAMENTE

“Viva cada minuto da sua vida como se fosse o último” diz uma das frases que mais tenho visto as pessoas repetirem como sendo um mantra de felicidade e sinônimo de ter uma vida plena e intensa. Quem levar a sério o que preconiza esta frase terá, ao fim da sua vida, errado todos os minutos da sua existência menos um. Como acredito na inteligência das pessoas, certamente a frase acima não é levada a sério por ninguém, funciona mais como um desabafo ou um grito de liberdade perante os grilhões de responsabilidades e infortúnios que a vida teima em nos colocar.

Uma outra abordagem que podemos dar a essa frase é a lembrança que ela nos traz ao saber que efetivamente haverá um último minuto na nossa vida. Todos sabemos que morreremos algum dia, mas quem efetivamente pauta a sua vida com base nesta verdade? A indústria cinematográfica é fértil em produzir obras cujo tema é a mudança dos personagens perante o conhecimento de uma morte eminente. Turrões e avarentos viram bondosos e espirituais, mulherengos passam a procurar o amor verdadeiro, e tem até os que listam o que precisam fazer antes de morrer. A lição que tentam nos passar é: “porque esperar saber que vamos morrer em breve para sermos pessoas melhores?” Infelizmente a grande maioria das pessoas, que se emociona e questiona as suas prioridades com estes filmes, volta às suas rotinas e a viver exatamente da mesma maneira como o fazia antes.

Agora vem a parte em que você não vai concordar comigo. Se alguma vez você adotou a frase acima como palavra de ordem, ou se emocionou com um desses filmes de hollywood repensando a sua vida, mas depois nada mudou, então você faz parte das pessoas que não vive intensamente. A sua vida precisa de uma mudança efetiva para poder ser chamada de plena.

Tomamos conciência de que a nossa vida não está sendo vivida na sua plenitude quando vemos que há um rol imenso de coisas que ainda não realizamos. Algumas destas coisas são de responsabilidade exclusivamente nossa. Perder peso por exemplo (a não ser que seja um problema hormonal, claro). Todos sabemos a fórmula para emagrecer: “gastar mais calorias do que ingerimos” mas colocar isto em prática no dia a dia torna-se um desafio imenso. As desculpas que inventamos não são nem originais, vão desde dizer que não há tempo para praticar atividade física, até o famoso regime que começará sempre na próxima segunda. Por falar em falta de tempo para “malhar”, saibam que essa desculpa caiu por água abaixo depois que o Obama declarou que mesmo em campanha para presidente ele não abria mão de sua atividade física diária. Sem querer fazer pouco dos seus compromissos, é pouco provável que você tenha uma agenda tão comprometida como a de um candidato (vencedor) a presidente dos Estados Unidos. Como fazer então? Simples e complicado ao mesmo tempo. Um dos problemas é a nossa ansiedade, queremos resultados rápidos e a nossa vida exige processos de maturação lenta: Cursar uma faculdade, aprender um idioma, ter um encarreiramento bem sucedido, perder peso, etc. São todas coisas impossíveis de serem alcançadas somente porque foram apontadas como metas a serem conseguidas. Precisamos de atitudes repetidas por várias vezes até atingirmos o alvo, precisamos de disciplina algo que só de pensar já cansa e aborrece. Se queremos resultados rápidos e imediatos pensemos então em metas rápidas e imediatas, deixemos as metas de longo prazo para o longo prazo. No caso de perda de peso a sua meta será não exagerar no seu almoço de hoje, não assaltar a geladeira esta noite, não comer esse biscoitinho agora, e fazer a sua caminhada ainda antes de deitar. Avalie-se segundo as suas metas de hoje antes de dormir e sinta-se um vencedor se as conseguiu cumprir, e sorry, sinta-se um fracassado caso tenha falhado. Comece tudo de novo no dia seguinte, mas não fique paranóico, deixe um dia na semana como prémio, ou então prepare-se para aquela festa que promete e chute o balde sem dor na conciência. Esqueça a sua meta do mês, da semana, a sua meta é a de hoje, melhor a de agora, a deste segundo, a sua batalha se dá a cada momento que você precisa escolher entre sucumbir ou vencer, é tudo que interessa. E a cada segundo que você vencer vibre, a cada segundo que você falhar sinta-se um fracassado. Mas lembre que esta noite tem uma contabilidade própria a ser feita e que ainda pode recuperar o seu dia e torná-lo vitorioso, comece tudo de novo. Este processo levará intensidade para sua vida, acredite.

Um outro ponto é a respeito de nossos problemas que acreditamos que nos impedem de levar uma vida plena. Como ter uma vida plena se há falta de grana ou de um amor verdadeiro? Como viver plenamente se temos que lidar com doenças ou tragédias familiares? Se este fosse o último minuto da nossa vida eles não teriam mais importância, certo? Esta é uma das razões do desabafo da frase acima, e este grito de liberdade é o que denuncia que na sua vida falta plenitude. Plenitude de entendimento. Problemas são parte integrante da nossa vida, eles já vem com o pacote quando desembarcamos nesta Terra. Desejar que não existam, significa querer brincar de Deus e dizer como poderíamos fazer um mundo melhor. Bobagem, problemas não são para serem analisados transcedentalmente, são para serem resolvidos. Dos problemas que você tem atualmente uma grande maioria são resultados das suas próprias ações e decisões. Então, se você soube como criá-los, deve saber também com o eliminá-los. Talvez não goste da resposta, mas removê-los está ao seu alcance. Então pare de reclamar deles e passe a reclamar de você mesmo. Mais uma vez, não é decidindo resolver os problemas que eles se resolvem, é AGINDO, não diga que já resolveu tomar uma atitude, contabilize resultados e não intenções. Restam aqueles problemas originários do infortúnio, uma bala perdida num familiar, por exemplo. Dependendo da proximidade do familiar isto pode mudar toda a sua vida, e embora saibamos que fatalidades acontecem ninguém está preparado para isto. Uma vez a tragédia instalada o que fazer é uma decisão sua. No Rio de Janeiro, os pais de uma jovem assassinada por uma bala perdida no metrô decidiram fundar uma ONG e iniciar uma campanha em prol da paz que mobiliza milhares de pessoas. Quando há famílias atingidas por tragédias similares a que eles passaram fazem questão de ir prestar solidariedade. Poderiam ser mais um casal deprimido e revoltado com o destino, ao invés disso decidiram contribuir positivamente com a sociedade, e levar um vida intensa em homegem a sua filha. Pois é, mesmo diante de um infortúnio, a possibilidade de uma vida intensa e plena ainda é uma decisão sua, decisão que precisa ser colocada em prática e renovada a cada minuto da sua existência, até chegar ao último.

APOLO.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sobre a Paixão do Ódio

Ódiame por piedad yo te lo pido,
ódiame sin medida ni clemencia,
odio quiero más que indiferencia,
porque el rencor hiere menos que el olvido.

Si tú me odias quedaré yo convencido,
de que me amaste mujer con insistencia,
pero ten presente, de acuerdo a la experiencia,
que tan solo se odia lo querido
” -- Federico Barreto -

Os versos acima receberam melodia e foram imortalizados passando a fazer parte do cancioneiro popular da música latino-americana. O enredo é uma obra prima do gênero “dor de cotovelo”. Pede-se desesperadamente para que, findo o relacionamento, a amada passe a cultivar o mais feroz dos ódios ao invés de indiferença. O poeta alega que somente assim ele terá certeza de que foi verdadeiramente amado. Loucura poética ou expressão artística de um profundo conhecedor da natureza humana? Estou mais inclinado a acreditar que Federico Barreto era mais uma dessas pessoas cheias de sensibilidade que conseguem desnudar com palavras os mecanismos da alma.

Amor é um sentimento, amar é uma decisão. Esses conceitos não são meus, mas acredito neles. A palavra amor já recebeu centenas de definições e metáforas, portanto não dissertarei sobre ela. Entretanto faço questão de apontar um fato: O amor pensa no longo prazo e no bem que será gerado. Quando você ama de verdade mais importante do que saber se algo é bom ou ruim, é considerar se algo é para o teu bem ou para o teu mal. Esta diferença, que mais pode parecer um jogo de palavras, é algo de extrema importância e saber como enquadrar estes conceitos nas nossas tomadas de decisões pode significar a diferença entre a felicidade e a infelicidade. O grande problema é que essa diferença às vezes não é tão clara assim, citarei um exemplo: Não temos a menor dúvida de que uma mãe amorosa quer o bem do seu filho, mas se ela deixar de colocar limites e não fizer com que os atos negativos dele tenham conseqüências, certamente não estará agindo com amor. O que leva ela a agir assim é a paixão que ela tem pelo filho. Paixão é assim, pensa no imediato e não pondera as conseqüências de longo prazo. Convença uma mãe apaixonada, que agindo dessa maneira, ela não está tendo atitudes amorosas, se você conseguir tornar-se-á meu herói. Percebeu a confusão?
A paixão tem outra característica além da de ser imediatista. Ela se presta tanto para o bem quanto para o mal. Por mais incoerente que pareça pode-se “amar apaixonadamente” assim como também se pode “odiar apaixonadamente”. Paixão é um sentimento que só existe se houver atitudes (e muitas atitudes) que a demonstrem. A combinação de amor e paixão é o ideal almejado por todos nós, por estarmos apaixonados nos sentimos motivados a gerar fatos novos e surpreendentes a toda hora, por estarmos balizados pelo amor prosseguimos ou freamos tais atitudes visando o bem dessa relação. Quando o que norteia é a paixão ela vira tóxica, pode durar 9 semanas e meia ou vários anos de altos e baixos destrutivos. São estas últimas (as guiadas pela paixão) que quando acabam podem virar paixões de ódio. Certamente você conhece alguns exemplos de ex-cônjuges que fazem de tudo para infernizar a vida do outro, despendem tempo, energia e imaginação para terem a falsa ilusão de satisfação pelo sofrimento do outro. Óbvio que esse prazer momentâneo nada mais é do que um consolo para sua infelicidade, um refúgio de infelicidade (vide postagem anterior com esse título).

Quando as relações pautadas pelo amor terminam, elas simplesmente acabam. O sentimento de amor sofre uma metamorfose, passa para melancolia, saudade, e sente-se até certo orgulho pelo que foi vivido. Pode-se terminar uma relação de amor por várias razões, porém o motivo mais comum é que cada uma das partes tem mais chances de ser feliz seguindo outro caminho. Consegue-se ter amor até no fim já que a compreensão do bem a longo prazo é entendida, por mais dolorido que possa ser no momento da separação. As felicidades dos dois passam a ser independentes, foi isto que o poeta lá em cima chamou de “indiferença” e que ele sabia selaria o fim. Como sabia que não conseguiria mais o amor da sua donzela restava clamar pela sua paixão de ódio, somente assim haveria atitudes e pensamentos gerados em relação a ele. O problema é quando o pedido é atendido ou então tem como destinatário alguém que também se encontra no mesmo cenário de paixão de ódio. Encontramos dois apaixonados jurando que o relacionamento já acabou, mas que são dependentes químicos de uma relação tóxica cuja cura, por mais piegas que pareça, é tornar isso em amor, amor próprio principalmente e passar a pensar no seu futuro e na reconstrução da sua vida, independente da outra.

Combinamos então: o oposto de amor não é ódio, é independência (ou indiferença). Enquanto você não conquistar isso o seu relacionamento não acabou, a forma de se manifestar mudou, mas o tempo que ele ocupa na sua mente, no seu coração, ainda é relevante. Ele ainda mexe com as suas emoções, ele ainda existe, por mais que você teime em afirmar o seu fim. Paixão e dependência andam tão juntas quanto amor e liberdade, mas não necessariamente acompanhadas uma da outra.

APOLO.

MSN: blogdoapolo@hotmail.com

sexta-feira, 20 de março de 2009

Homens Que Perdem a Cabeça

Toda a inocência e pureza que nos ensinaram ser própria da natureza desaparecem ao vermos como é a dura realidade das espécies não humanas. Além da clássica luta caça x predador existe uma luta entre pares da mesma espécie para garantir o direito de ter o seu gene preservado. A vida não é fácil: Precisa-se lutar engenhosamente para obter alimentos, sobreviver ao predador e sobressair ante os outros machos para ter direito à fêmea onde será perpetuado o gene. Não bastasse isso, em alguns casos, precisa-se de agilidade e esperteza para sobreviver a copula com a fêmea.

O comportamento sexual do louva-deus é emblemático. O macho leva horas aproximando-se da fêmea para demonstrar como ele é confiável. Após um longo tempo as carícias começam através de contatos tímidos das antenas, a fêmea tendo aceitado a corte sinaliza que está pronta para o ato, o macho então, num ágil pulo precisa dar a volta e ficar em cima dela fazendo o máximo para segurar-lhe o pescoço com firmeza. Esta “pegada” não tem nada a ver com erotismo, é um ato de autodefesa. Caso a fêmea conseguir se desvencilhar ela ficará de frente para o macho e começará a morder a cabeça dele, estas mordidas também não são sinais de “louco-amor”, são mordidas de digestão mesmo. A fêmea literalmente come a cabeça do macho que tem um sistema nervoso apto a terminar o ato sexual depositando todo o seu sêmen mesmo já decapitado. Orgasmo findo, vida finda. A nossa receptora e responsável pela perpetuação da espécie ainda tem tempo para deliciar-se com o que sobrou do heróico doador. Dizem que ela faz isto para garantir uma boa nutrição para seu novo estado gestacional. Para os que gostam dos nomes destas curiosidades ai vai: “Canibalismo sexual”. Por algum motivo este comportamento somente se dá nas fêmeas, não existem registros de machos que se alimentam das fêmeas após ou durante o sexo. Desculpem a infâmia, mas na natureza quem literalmente “come” é a fêmea.

Têm coisas que raramente são admitidas. Homem que é homem não admite que já perdeu a cabeça por mulher alguma, assim como mulher que quer manter a sua imagem de ternura jamais admitirá que é uma “mulher fatal”, devoradora de homens. A verdade é que todo homem em algum momento da sua vida já perdeu (se não, ainda perderá) a cabeça por alguma mulher, assim como toda mulher fatalmente irá jogar todo o seu “fatalismo” em cima de um homem pelo menos uma vez na vida. O grau com que isso ocorre depende de cada um. Alguns homens perdem a cabeça tendo infindáveis noites de insônia, mudando valores ou fazendo loucuras. Por outro lado algumas mulheres exercerão seu lado “mulher-fatal” fazendo poses para conseguir uma troca de pneus ou tramando para conseguir um convite para sair daquele colega novo no trabalho (mesmo que ele já tenha compromisso).

O paradigma a ser derrubado aqui está ligado ao símbolo de machismo e soberania que nós homens temos como sendo os “reis da criação”, os fortes que comandamos o mundo e, que pelo fato de termos a maior porção de renda do mundo nos julgamos os seres superiores. Esta ilusão começa quando vemos que na própria natureza o macho, via de regra, é maior e mais belo do que a fêmea, infantilmente pensamos “os machos são melhores que as fêmeas”, ledo engano. Os machos PRECISAM ser belos, é a fêmea quem escolhe o macho e é por isso que ele capricha no visual e nos sinais de que é merecedor da escolha, o alvo de comparação dele não é a fêmea, mas outro macho. Essa pose de pavão toda é para dizer que ele é melhor que os outros e convencer a paquera disso, a fêmea não precisa de plumas bonitas e coloridas é ela quem escolhe e ponto. Num rápido paralelo pense em quantos homens acabaram trocando as plumas coloridas por zeros à direita na conta bancária? Ou por bíceps anabolizados? O raciocínio é o mesmo, só muda a ferramenta de convencimento. Esta é a parte em que as mulheres pensam “não tem nada a ver, homem atira para tudo quanto é lado, não existe processo de escolha”, mas esse é outro assunto, o homem precisa ser escolhido cada vez que ele procura uma parceira, se esse processo é único ou contínuo é discussão para outra postagem.

A figura de “perder a cabeça” se dá quando o homem não freia seus atos ante as conseqüências do que ele receberá em troca por ser escolhido. De uma maneira geral, quanto mais atraídos pelo perigo somos, mais perto do louva-deus macho estamos. O que leva um homem querer ser escolhido por uma mulher-hortifruti qualquer sabendo que além do prazer imediato pode lhe custar um bom pedaço do saldo bancário ou até o casamento além de ter que ficar ouvindo papo sem pé nem cabeça por horas a fio? Porque os bordéis vivem cheios? Será que é porque esta é a única oportunidade em que o macho pode escolher a fêmea sem ter chances de ser rejeitado? Uma vez ouvi que uma das vantagens do bordel era de que ali o homem sempre será bonito e gostoso independente da barriga, mau hálito, ou nariz grande, isto é, competição zero. O que é a traição masculina senão um ato de reafirmação da nossa capacidade de sermos escolhidos? Por mais inocente que possa parecer aos nossos olhos viris, toda traição implica em possibilidade de conseqüências negativas, seja uma bronca desaforada ou até a perda da companheira, mas mesmo assim nos arriscamos a perder a cabeça ou outras partes do nosso patrimônio.

É nesta mecânica, a de estarmos tentando ser escolhidos, que fica evidente a fragilidade da situação masculina no campo do relacionamento. Arriscamo-nos neste processo a perder a liberdade, a ter que mudar de valores ou de comportamento, a perder o sono, etc. Nesta altura você deve estar se perguntando: onde entra o amor nesta história toda? Entra em qualquer momento, por amor podemos parar de querer ser escolhidos por outras companheiras. Uma coisa é verdade: Homem que é homem não consegue viver bem consigo mesmo sabendo que não conseguiu ser escolhido. Mulher sozinha e bem resolvida eu conheço várias, quer mais símbolo de fortaleza do que isso?

Apolo

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Refúgios de Infelicidade

A não ser que você seja uma pessoa declaradamente depressiva, uma das suas preocupações deve ser a busca pela felicidade, e sobre isto já se falou muito nos livros de auto-ajuda. Mas, enquanto você busca a sua felicidade, o que você faz com a sua infelicidade? Qual a maloca onde você decidiu esconder isso? Será que escondê-la é a melhor saída? Será que a nossa busca deve ser pela felicidade ou pela eliminação da infelicidade?

Sem maiores polêmicas. Vamos usar o conceito de que a felicidade se dá numa vida plena, onde o ser humano pode se sentir realizado nos vários aspectos da sua vida. Vivemos diversos papéis. Somos pais, filhos, namorados, profissionais, amigos, etc. É mais do que sabido que o sucesso num único aspecto não garante a felicidade, e diversos exemplos de estrelas que morrem por overdose ou com relacionamentos complicados nos mostram como a felicidade não anda necessariamente junto com o sucesso profissional.

O tempo que você dedica a um dos aspectos da sua vida pode ser um bom apontador do esconderijo que você encontrou para ocultar a sua infelicidade em outras áreas. Esta é a mecânica mais comum utilizada por nós humanos. Viramos “workaholics” e claro, colocamos a culpa na pressão do trabalho, no chefe, no cliente, na necessidade de dinheiro, etc. Nunca iremos admitir que estamos viciados em trabalho porque, dessa maneira, não haverá tempo para lidar nem lembrar dos outros lados da vida, onde não estamos sendo eficientes e felizes. Caso o sucesso profissional for alcançado, e com isso a sua respectiva recompensa financeira, será quase impossível aceitar que a nossa dedicação excessiva ao trabalho é um refúgio de infelicidade. Neste ponto se faz necessária uma observação. Existem coisas que precisam de bastante dedicação, trabalho é um bom exemplo. Nunca conseguiremos realização profissional se não dedicarmos bastantes horas de nossos dias ao trabalho, como o dia tem um número limitado de horas então, não resta muito tempo para as outras coisas. Como reconhecer então se estamos nos dedicando o necessário ao nosso trabalho ou virando um “workaholic”? Resposta: Percebendo há quanto tempo estamos adiando problemas que sabemos que precisamos resolver. Faz quantos meses você sabe que precisa ter “aquela conversa” com o seu filho e a mesma não acontece? Faz quanto tempo que o seu relacionamento entrou em compasso de espera, e você não faz os agrados que você sabe a outra parte espera? Faz quanto tempo que aquele livro está ali na prateleira esperando ser lido mesmo você sabendo que ele é importante para você? Faz quanto tempo que você vem adiando aquela visita ao médico ou dentista? Agora você pode estar pensando, “definitivamente eu não sou viciado em trabalho, mas também sei que, como todo mundo, tem algumas coisas importantes que venho adiando, então isto não se aplica a mim”. Será? Como disse, trabalho é um dos esconderijos, cabe a você descobrir qual é o seu. Pode ser a tela da televisão, a sua dedicação excessiva aos seus filhos, à sua religião ou à sua malhação, etc. Geralmente é algo que lhe traz prazer, de outra forma não serviria de esconderijo. Este esconderijo é tão perfeito que ele se esconde até de você mesmo, e dificilmente você o perceberá como sendo um refúgio de infelicidade a não ser que o busque ativamente. O problema é que, como estamos condicionados a buscar a nossa felicidade e sabemos que estas atividades-refúgios nos trazem alegria, nos dedicamos cada vez mais a elas e com isso aumentamos o buraco de infelicidade nos outros aspectos da nossa vida fortalecendo a estrutura do nosso esconderijo de infelicidade. A minha proposta aqui é tentar traçar uma busca da felicidade não através da prática daquilo que tem nos dado prazer e satisfação, mas sim pela identificação daquilo que não está resolvido e nos causa frustração, para assim poder ser trabalhado e melhorado. O paradigma a ser quebrado é que a sua felicidade tal vez não esteja somente na procura por aquilo que lhe dá prazer, mais sim pela solução daquilo que tem lhe trazido insatisfação por não ter sido realizado. Tire esses vultos do esconderijo onde os colocou, lave-os e estenda-os ao sol e comece a viver uma vida feliz desempenhando não somente um ou poucos papéis com eficiência, descubra o prazer de ter uma vida plena e realizada nos outros personagens que a vida lhe reservou. Deus nos fez para termos uma vida, rica e abundante. Lembre-se, abundância é quando temos bastante de várias coisas, quando temos bastante de uma só coisa é excesso, sobra, vício, compulsão, neurose, em fim, refúgio de infelicidade.

APOLO.