sexta-feira, 20 de março de 2009

Homens Que Perdem a Cabeça

Toda a inocência e pureza que nos ensinaram ser própria da natureza desaparecem ao vermos como é a dura realidade das espécies não humanas. Além da clássica luta caça x predador existe uma luta entre pares da mesma espécie para garantir o direito de ter o seu gene preservado. A vida não é fácil: Precisa-se lutar engenhosamente para obter alimentos, sobreviver ao predador e sobressair ante os outros machos para ter direito à fêmea onde será perpetuado o gene. Não bastasse isso, em alguns casos, precisa-se de agilidade e esperteza para sobreviver a copula com a fêmea.

O comportamento sexual do louva-deus é emblemático. O macho leva horas aproximando-se da fêmea para demonstrar como ele é confiável. Após um longo tempo as carícias começam através de contatos tímidos das antenas, a fêmea tendo aceitado a corte sinaliza que está pronta para o ato, o macho então, num ágil pulo precisa dar a volta e ficar em cima dela fazendo o máximo para segurar-lhe o pescoço com firmeza. Esta “pegada” não tem nada a ver com erotismo, é um ato de autodefesa. Caso a fêmea conseguir se desvencilhar ela ficará de frente para o macho e começará a morder a cabeça dele, estas mordidas também não são sinais de “louco-amor”, são mordidas de digestão mesmo. A fêmea literalmente come a cabeça do macho que tem um sistema nervoso apto a terminar o ato sexual depositando todo o seu sêmen mesmo já decapitado. Orgasmo findo, vida finda. A nossa receptora e responsável pela perpetuação da espécie ainda tem tempo para deliciar-se com o que sobrou do heróico doador. Dizem que ela faz isto para garantir uma boa nutrição para seu novo estado gestacional. Para os que gostam dos nomes destas curiosidades ai vai: “Canibalismo sexual”. Por algum motivo este comportamento somente se dá nas fêmeas, não existem registros de machos que se alimentam das fêmeas após ou durante o sexo. Desculpem a infâmia, mas na natureza quem literalmente “come” é a fêmea.

Têm coisas que raramente são admitidas. Homem que é homem não admite que já perdeu a cabeça por mulher alguma, assim como mulher que quer manter a sua imagem de ternura jamais admitirá que é uma “mulher fatal”, devoradora de homens. A verdade é que todo homem em algum momento da sua vida já perdeu (se não, ainda perderá) a cabeça por alguma mulher, assim como toda mulher fatalmente irá jogar todo o seu “fatalismo” em cima de um homem pelo menos uma vez na vida. O grau com que isso ocorre depende de cada um. Alguns homens perdem a cabeça tendo infindáveis noites de insônia, mudando valores ou fazendo loucuras. Por outro lado algumas mulheres exercerão seu lado “mulher-fatal” fazendo poses para conseguir uma troca de pneus ou tramando para conseguir um convite para sair daquele colega novo no trabalho (mesmo que ele já tenha compromisso).

O paradigma a ser derrubado aqui está ligado ao símbolo de machismo e soberania que nós homens temos como sendo os “reis da criação”, os fortes que comandamos o mundo e, que pelo fato de termos a maior porção de renda do mundo nos julgamos os seres superiores. Esta ilusão começa quando vemos que na própria natureza o macho, via de regra, é maior e mais belo do que a fêmea, infantilmente pensamos “os machos são melhores que as fêmeas”, ledo engano. Os machos PRECISAM ser belos, é a fêmea quem escolhe o macho e é por isso que ele capricha no visual e nos sinais de que é merecedor da escolha, o alvo de comparação dele não é a fêmea, mas outro macho. Essa pose de pavão toda é para dizer que ele é melhor que os outros e convencer a paquera disso, a fêmea não precisa de plumas bonitas e coloridas é ela quem escolhe e ponto. Num rápido paralelo pense em quantos homens acabaram trocando as plumas coloridas por zeros à direita na conta bancária? Ou por bíceps anabolizados? O raciocínio é o mesmo, só muda a ferramenta de convencimento. Esta é a parte em que as mulheres pensam “não tem nada a ver, homem atira para tudo quanto é lado, não existe processo de escolha”, mas esse é outro assunto, o homem precisa ser escolhido cada vez que ele procura uma parceira, se esse processo é único ou contínuo é discussão para outra postagem.

A figura de “perder a cabeça” se dá quando o homem não freia seus atos ante as conseqüências do que ele receberá em troca por ser escolhido. De uma maneira geral, quanto mais atraídos pelo perigo somos, mais perto do louva-deus macho estamos. O que leva um homem querer ser escolhido por uma mulher-hortifruti qualquer sabendo que além do prazer imediato pode lhe custar um bom pedaço do saldo bancário ou até o casamento além de ter que ficar ouvindo papo sem pé nem cabeça por horas a fio? Porque os bordéis vivem cheios? Será que é porque esta é a única oportunidade em que o macho pode escolher a fêmea sem ter chances de ser rejeitado? Uma vez ouvi que uma das vantagens do bordel era de que ali o homem sempre será bonito e gostoso independente da barriga, mau hálito, ou nariz grande, isto é, competição zero. O que é a traição masculina senão um ato de reafirmação da nossa capacidade de sermos escolhidos? Por mais inocente que possa parecer aos nossos olhos viris, toda traição implica em possibilidade de conseqüências negativas, seja uma bronca desaforada ou até a perda da companheira, mas mesmo assim nos arriscamos a perder a cabeça ou outras partes do nosso patrimônio.

É nesta mecânica, a de estarmos tentando ser escolhidos, que fica evidente a fragilidade da situação masculina no campo do relacionamento. Arriscamo-nos neste processo a perder a liberdade, a ter que mudar de valores ou de comportamento, a perder o sono, etc. Nesta altura você deve estar se perguntando: onde entra o amor nesta história toda? Entra em qualquer momento, por amor podemos parar de querer ser escolhidos por outras companheiras. Uma coisa é verdade: Homem que é homem não consegue viver bem consigo mesmo sabendo que não conseguiu ser escolhido. Mulher sozinha e bem resolvida eu conheço várias, quer mais símbolo de fortaleza do que isso?

Apolo