quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A identidade do autor

Recebi alguns questionamentos a respeito da minha identidade. Os mais próximos sabem exatamente quem sou eu, outros, entre distantes e não tão distantes assim, começaram a receber o e-mail semanal convidando para a leitura deste blog sem saberem exatamente quem sou. Cheguei a receber e-mails ameaçadores, do tipo “identifique-se ou me retire do seu mailing list”.

Acredito que neste mundo conturbado e violento onde hackers têm o sadismo de enviar vírus só pelo prazer de verem seu mal se espalhando seja muito razoável querer se proteger de intrusões virtuais. Mas precauções a parte quem já leu este Blog percebeu que o autor só deseja se divertir escrevendo e espalhando estas linhas pelas marés das bandas largas e linhas discadas da web. O axioma é bem simples “eu me divirto escrevendo, quem sabe você se divirta lendo?”. No meu digitar coloco coisas que aprendi ao longo da minha vivência, tal vez você se identifique com elas ou então descubra um novo ângulo de ver aquilo que você está tão acostumado a enxergar todo dia do mesmo modo.

Mas porque será que existe essa necessidade de conhecer a identidade de quem escreve? Falemos sobre os dois motivos mais óbvios:

- “Diz com quem andas que te direi quem és” Você precisa identificar se a pessoa que está enviando mensagens pertence a algum grupo que referencie o seu mesmo jeito de ver as coisas ou se ela professa o seu mesmo credo. Isto faz parte da sua auto-afirmação social de conceito de grupo. Muito lógico, muito natural. Afinal de contas você é uma pessoa de convicções e tem orgulho de agir de acordo com o que você acredita ser o certo, porque dar ouvidos a alguém que pode ter idéias ou conceitos diferentes dos seus? Este é o motivo da sua necessidade de saber a identidade do autor? Legal, você não está sozinho(a). A história esta cheia de exemplos similares. O que me vem mais rapidamente à mente é o daquelas pessoas certinhas, defensoras da lei e da ordem que mandaram crucificar um arruaceiro que vivia rodeado de bêbados, glutões e prostitutas. Longe de mim tentar ser um cristo virtual! Mas essa sua lógica o colocaria de que lado da multidão frente a Póncio Pilatos? Se você vai alegar que esse foi um caso único na história já vou lhe dizendo que o Holocausto, o Apartheid, a Revolução de 64, etc. tiveram o mesmo DNA, o que detém o gene da separação e exclusão daquilo que não pertence ao grupo dominante. Neste caso o grupo dominante é o grupo de conceitos que dominam você.

- Precisa saber se o autor efetivamente pratica o que escreve? Somente saberá se tiver meu nome revelado, certo? Uhhmmm... a primeira coisa que consigo me lembrar é de um amigo meu que afirmou cheio de convicção, “eu não pertenço a nenhuma religião porque até agora em todas as religiões que eu freqüentei pude ver que as pessoas não seguiam 100% o que elas defendiam como certo” Óbvio que até agora ele não conseguiu se filiar a nenhum grupo religioso. Quem me conhece sabe que é mais fácil lembrar os meus defeitos do que as minhas virtudes. Mas e daí? No que isso pode mudar o conteúdo e o sentido do que está escrito? As palavras, idéias, conceitos e paradigmas têm força por si só, não precisam nem de mim nem de você para existirem. Esse joguinho de “olha quem está falando?!” somente serve para brigas de namorados adolescentes. Quem está disposto e aberto a realmente aproveitar novas idéias e conceitos ou a romper seus paradigmas não está preocupado com quem está falando, mas na força daquilo que está escrito para sua própria vida. Somente assim quem lê estas linhas poderá curtir a viagem nas minhas experiências quando encontrar algo de utilidade para si.

É isso ai, não permita que conceitos ou doutrinas sejam contaminados pelos mensageiros. Faça com que o jogo seja entre as idéias e você, somente assim poderá tirar o máximo proveito delas, ou então reafirmar os seus próprios conceitos. Neste processo o que menos importa é a identidade do autor.

APOLO

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

VERDADES QUE APRISIONAM, MENTIRAS QUE LIBERTAM

Um dos mais clássicos versos bíblicos diz “a verdade vos libertará” e, como tudo que é tomado fora do contexto, acabou virando desculpa para podermos agir colocando a verdade como o único preceito moral a ser aceito como justo, certo e digno de ser levado em conta para nortear os nossos atos. Se você acha que a verdade está acima de tudo então encontrará aqui uma voz discordante.

De antemão descarto a defesa do falso, da mentira, do engodo. O que questiono é a prevalência da verdade acima de todos os outros objetivos moralmente desejáveis. Ao mesmo tempo advogo pela mentira, pela falsidade como um caminho para construir fortalezas ou diminuir fraquezas nas nossas vidas. Paradoxal? Nem tanto.

Se em alguns momentos a verdade pode ser prejudicial e em outros a mentira pode ser construtiva, como então decidir em que momento escolher por uma ou por outra? Fácil: Pela conseqüência esperada.

Tentarei ilustrar através de um exemplo. Suponhamos que você foi magoado por alguém, suponhamos que essa pessoa tenha agido de maneira leviana contra você e que você tenha conseguido reunir provas da premeditação do ato. Você então tem todas as razões do mundo para estar magoado, isto é uma verdade! A pessoa agiu de má fé contra você, também é verdade! Você não tem a menor intenção de deixar passar isso em branco e os seus sentimentos estão verdadeiramente feridos. Pronto! Você acabou de levantar uma verdadeira prisão de “verdades” ao redor de você mesmo. Cada vez que lembrar o ocorrido não conseguirá andar além das grades de verdades que você levantou. Lamentavelmente poucos são os que percebem que estão presos, muitos chegam a defender as verdades como tesouros que justificam as suas mágoas e rancores. Ponto pacífico que mágoa e rancor não são bons para ninguém. “Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra." (William Shakespeare). Como fazer então para sair desta prisão de verdades? Simples de falar, difícil de fazer: Criando um cenário de mentiras construtivas. Fingindo que não estamos magoados, que efetivamente já perdoamos, que não damos a mínima para o que aconteceu, achando graça do episódio como um todo, etc. Não me peça para explicar como funciona, mas o resultado será que em algum momento o seu alvará de soltura será emitido e você estará fora dessa prisão. Existe uma Lei no Universo que premia tudo aquilo que a gente faz com disciplina e dedicação, por esta Lei aquilo que começou como uma mentira será transformado em verdade e o beneficiado será você.

Os nossos gostos, sentimentos, desejos, as nossas opiniões, etc. tudo isso também pode funcionar como verdades que aprisionam. Mesmo sem lhe conhecer posso garantir que o seu baú de verdades está cheio de argumentos que não permitem você se relacionar melhor com outras pessoas, ou que impediram você de começar aquele regime por tantas vezes adiado. O certo é que se você esperar a vontade de perdoar chegar para perdoar, você nunca perdoará; se você esperar a vontade de comer menos e de malhar chegar, você nunca fará nem uma coisa nem outra. Aprenda a praticar a mentira construtiva, o fingimento que permitirá que as suas metas sejam alcançadas e que o seu dia a dia seja mais alegre, ria quando não tiver vontade e as pessoas verão em você um ser sempre feliz, o resultado? Você será um ser sempre feliz. Duvida? Comece agora a fingir que você não se importa mais com aquilo que o está incomodando, não pare de fingir, continue, continue. Depois me conte se funcionou.

Apolo

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A vida não é um jogo de xadrez

A frase título desta postagem pode parecer óbvia, mas pensando um pouco mais verá como existe um sem-fim de pessoas que acreditam que efetivamente a vida é um jogo de xadrez, uma competição, uma guerra, uma constante luta de interesses contrários.

Muito já se falou sobre luta de classes, resolução de conflitos, arte da guerra, etc. Existe até uma teoria matemática chamada “teoria dos jogos” cuja aplicação vai desde o flerte até o comportamento dos agentes econômicos para extrair valor de algo. Quem tiver interesse sobre estes assunto encontrará farto material na Internet, discorrer sobre isso tudo não é o meu objetivo. O que estou querendo dizer é que existe um paradigma no mundo em que vivemos que preconiza que estamos em constante resolução de conflito de interesses.

Se você entra numa loja o foco do vendedor será em conseguir que você gaste o maior dinheiro possível do outro lado você só aceitará gastar por algo que for do seu agrado e em alguns casos pedirá até desconto; No trabalho você acredita que você e o seu patrão têm interesses diferentes e pode colocar ai toda a lengalenga que os sindicatos têm como chavão; Ainda no ambiente de trabalho você vê o seu colega como rival para uma promoção; na escola o aluno costuma ver conflitos com os professores; quantos relacionamentos você conhece que viraram verdadeiras quedas-de-braço entre o casal?

“Todo o dia o leão terá que ser mais rápido que a mais lenta das gazelas para poder comer e a gazela terá que ser mais rápida que o mais rápido dos leões para sobreviver, não importa se você é leão ou gazela, todo dia você vai ter que correr o mais rápido que você puder” Diz um velho ditado africano que é tido como um ícone da competitividade. Outro ditado mais conhecido diz que “o peixe grande come o peixe pequeno”. Pronto! A nossa vida virou uma metáfora zoológica, somos peixes, leões ou gazelas em busca pela sobrevivência tendo que identificar quem são os nossos predadores ou as nossas presas. Se viver é isso mesmo vou ter que pedir emprestada a frase do Silvio Brito e dizer “pare o mundo que eu quero descer!”

O meu lado visionário, puxado pela minha personalidade aquariana me compele a dizer que se você é uma pessoa que tem a sua vida pautada por lutas e conflitos de interesses então você é um espécime em extinção.

Sim, sim, sei muito bem que conflitos e guerras existem desde que o homem passou a ter livre arbítrio, não sou ingênuo em acreditar que o amor e a paz reinarão porque nós decidiremos viver num mundo de harmonia e altruísmo mútuos. Guerras, guerrilhas, conflitos religiosos, conflitos sociais, etc. vão continuar existindo por muito tempo ainda. Não estou me referindo a esse tipo de conflito, estou me referindo aos conflitos de interesses que você enxerga na sua vida levado pelo paradigma de que tudo nesta vida é uma luta, um jogo de xadrez onde sempre têm vencedores e derrotados, e claro onde você tem que fazer de tudo para estar ao lado dos vencedores.

Quer deixar um americano profundamente ofendido? Chame-o de “looser” (perdedor). Por quê? Porque o mundo deles é feito de “vencedores” e “perdedores” e obviamente ninguém quer ser considerado um pária da sociedade. Calma! Também não vou discorrer aqui todo aquele fel antiamericano tão comum por ai. É de lá que também vem uma nova visão que acredito será a mais útil num mundo tão competitivo como o nosso. O jogo do win-win (ganha-ganha). Uma competição em que ambos ganham, será possível?

Vamos analisar algumas situações de conflitos clássicos para ver como funcionaria:
- Numa transação comercial comprador e vendedor teriam que deixar de lado o interesse individual para assumir que existe um interesse comum o qual poderia ser “continuar fazendo negócios juntos” para isto acontecer o ganho de ambos terá que encontrar um meio termo o qual deixe ambos satisfeitos, uma negociação com esta premissa levará a um jogo de win-win.
- Nas relações trabalhistas o empregador tem que abrir os olhos para perceber que tanto ele como o funcionário não estão em lados opostos do tabuleiro, ambos precisam da continuidade da empresa, isto já é um interesse comum. Por outro lado quem dá o balizador das demandas trabalhistas é o mercado assim como é o próprio mercado quem diz a qual preço os produtos ou serviços da empresa podem ser negociados. Imaginem uma empresa onde os funcionários exigem constantemente aumentos salariais, claro que vai chegar uma hora em que o patrão verá que as outras empresas têm quadros mais baratos e fará todo o possível para renovar a sua folha a custos mais atrativos. De outro lado se o empregador tentar achatar os salários e não compartilhar lucros com os seus funcionários terá pessoas menos motivadas e, portanto menos produtivas que farão de tudo para mudarem para outra empresa com maiores remunerações. Quando o gestor da empresa conseguir formar uma cultura organizacional onde este conflito de interesses não exista, mas onde seja claro o objetivo comum, muita energia deixará de ser gasta em negociações trabalhistas e poderá ser aplicada para obter maiores fatias de mercado e maior lucratividade para a empresa como um todo. Utopia? Claro que não, não vou falar nome de empresas aqui, mas se você perguntar por ai verá que já existem empresas onde esta nova cultura está prevalecendo.
- O dia que ouvi da minha antiga parceira a frase “as coisas tem que ser sempre do teu modo” eu percebi que o nosso relacionamento estava em crise. Se existe um lugar onde o interesse comum TEM que imperar é no relacionamento amoroso, poderia dar uma de romântico e dizer que o interesse comum seria “o de agradar o outro”, mas vou ser mais prático e dizer que o interesse comum é o de “manter o relacionamento”. Algumas meninas que estão lendo devem estar se perguntado “Mas Apolo, será que você não estava tentando fazer as coisas da SUA maneira mesmo?” Bingo! Acabaram de se denunciar. Relacionamento para vocês é um jogo de xadrez mesmo. Cada um chama de “relacionamento” o que quiser, eu vou falar o que deveria ser para mim: Duas pessoas ficam juntas porque têm algumas (muitas) coisas em comum (sem essa que pólos opostos se atraem, fale com um analista que ele explica melhor o porquê), entretanto essas duas pessoas não são iguais, tem outro tanto de coisas diferentes, mas que ao colocar na balança acharam que seria irrelevante para mudar a idéia de ficarem juntos. Pronto, é isso. No dia-a-dia o que é diferente é irrelevante, o que é da tua maneira ou da maneira dele(a) é irrelevante, mas e aquelas coisas relevantes que apareceram depois de ficarem juntos e existem diferenças? Bom no xadrez você não fala a sua tática, você simplesmente tenta vencer, mas num relacionamento comunicação é vital. Como num relacionamento de verdade o interesse comum é em “manter a relação” a maneira do consenso passará a ser a “nossa maneira”. Esse papo de “teu modo” é porque ou você está querendo discutir por coisas banais ou então porque você não se deu o trabalho de ter um dialogo prévio preferindo ir logo para o confronto e dar um xeque no adversário acusando-o de fazer as coisas do jeito dele(a). Relacionamentos de verdade são perfeitos? Claro que não, mas uma reclamação mais apropriada seria “você não está fazendo como nós havíamos combinado”... sacou?

Convido-o-(a) para uma exploração na sua rede de relacionamentos: no trabalho, em casa, nas ruas, nas lojas, na sua família, na sua religião, etc. Avalie se você está sentado(a) a frente de um tabuleiro de xadrez, mas deveria se levantar e passar a jogar o jogo do win-win. Dê um xeque-mate no seu orgulho e passe a ver uma outra maneira de poder ganhar o jogo. E se o seu “adversário” não quiser jogar esse novo jogo? Bom, acredita que isso não faz a menor diferença? Por quê? Acabou o tempo, mas prometo que eu conto na semana que vem.