segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Velhos Homens, Anos Novos

Este ano não vai ser,
Igual àquele que passou,
Eu não brinquei,
Você também não brincou,
Aquela fantasia,
Que eu comprei ficou guardada,
E a sua também, ficou pendurada

Mas este ano está combinado,
Nós vamos brincar separados
. – ( Até 4ª feira – Marchinha de Carnaval)


A sensação que temos no dia 1º de janeiro de todo ano é a de estarmos recomeçando um novo ciclo, isto não está do todo errado, muitas coisas na nossa vida têm período anual: escola, estações do ano, férias, idade, campeonatos de futebol, etc. etc. Da mesma forma sabemos que tempo é mera referência, os dias seguirão passando um atrás do outro independente da nossa métrica, e mesmo que você acredite que tudo acabará em 2012,os dias continuarão seguindo a sua seqüência soberana após esse escatológico evento.

Aproveitamos o fim do ano para renovar promessas, avaliar situações e até fazermos resoluções. A não ser que você seja uma pessoa extremamente metódica e disciplinada as suas resoluções não durarão. Tudo o que você decidiu na última virada de ano está ai de testemunha. Mas gostamos de nos enganar, adoramos essa brincadeira de fingir-nos de decididos, resolvidos, confiantes e, sobretudo de que com essa atitude iremos conseguir as mudanças propostas.

O mais interessante em fazermos uma lista de resoluções de ano novo está no fato de acreditarmos que as nossas atitudes precisam de data marcada. Primeiro sinal característico de decisões que não terão continuidade. Dietas que começam na 2ª feira dificilmente chegam na 6ª feira da mesma semana. O que procuramos com essa mecânica é a sensação de efetivamente estarmos sendo pró-ativos quando na realidade não fazemos nada de diferente. Decisões sem ações não são decisões são ESPECULAÇÕES.

Todos nós temos uma lista de coisas para mudar, sejam coisas simples como arrumar a bagunça do armário ou mais complexas como acabar um relacionamento ou mudar de emprego. Confortamo-nos ao pensar que estando conscientes dessas mudanças já damos um grande passo. O prazer que este conforto nos dá é semelhante ao prazer que as drogas oferecem, são reais, passageiros e podem viciar, fazendo com que nos acomodemos na “decisão” tomada e nunca passemos a agir diferente. Essa ilusão é tão forte que oculta uma decisão efetivamente tomada por nós: a de continuarmos com o “velho”. A cada dia que as mudanças não acontecem estamos decidindo (e agindo) dando seguimento àquilo que nós dizemos que iríamos mudar. Estamos decidindo NÃO MUDAR, mas nos enganamos dizendo que já decidimos mudar. Nós somos engraçados, não?

Criamos as mais variadas desculpas para justificar por que ainda não mudamos efetivamente. Quanto mais inteligentes formos, mais estruturadas e verdadeiras serão as nossas desculpas, mas nunca passarão de meras desculpas. Entretanto há situações em que, efetivamente, se faz necessário esperar para iniciar uma mudança. Entenda esperar como “gestar”, essa é a melhor maneira de não colocar a espera como escudo. Durante a espera alguma coisa tem que estar acontecendo, fatos novos têm que ser gerados, se não há nada de novo que sirva como variável de decisão a ser acrescentado, então a sua espera é mera desculpa para a sua omissão, sua covardia de mudar, seu medo, esses sim verdadeiros propulsores da sua decisão de continuar com o antigo, e por mais que você apregoe que está esperando algo acontecer, a decisão que vem sendo tomada não é a de esperar e sim a de reforçar o que você já vem fazendo, independente de data, situação, temperatura, pressão, etc.

A nossa capacidade de mudar está intimamente ligada com a nossa capacidade de continuarmos jovens, independente da idade. Canso de ver velhos com menos de 20 e jovens com mais de 60. Claro que não precisamos mudar tudo a toda hora, mas todos nós sabemos o que precisamos mudar, cada um com o seu cada um, como diria um amigo meu. É a renovação que faz de nós jovens, pessoas novas passando pelos anos novos a cada 12 meses, do contrário seremos pessoas velhas nos anos novos.

APOLO.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Poder das Marolinhas, Ondas e Tsunamis

Peguei uma onda maneira. Dei "cutback", "hang five, "hang ten" Eu sou melhor surfista da minha rua...” (Pop Star – de João Penca e Seus Miquinhos Amestrados)

Em abril de 1967 um professor americano realizou uma experiência com seus alunos do 2º ano do High School (Ensino Médio no Brasil). Com o pretexto de melhorar a produtividade e o aprendizado ele combinou com os alunos que fortaleceriam 4 conceitos: Disciplina, Corporativismo, Atitude e Orgulho. Estabeleceram-se metas e formas de tratamento que privilegiassem esses pontos, coisas como sentar-se eretos, não conversar em sala de aula, dirigir-se ao professor começando com “Senhor...” também foram criadas saudação e logo-marca próprias, que prontamente os alunos passaram a usar com orgulho. O desempenho da turma efetivamente melhorou e em poucos dias boa parte da escola estava envolvida na “Terceira Onda”, nome dado a esta experiência. Os que não queriam fazer parte do movimento passaram a ser hostilizados e vistos como “fracos”. Ao perceber que as coisas estavam saindo do controle o professor convocou todos os alunos dizendo que a “Terceira Onda” era na realidade um movimento nacional e que seria apresentado, pela televisão, o candidato presidencial do “Partido”. Os alunos foram em peso à apresentação trajando os uniformes e símbolos do movimento. A grande surpresa foi ver o professor apresentar um filme sobre o nazismo dizendo que o que ocorrera na escola respondia a pergunta sobre como os alemães permitiram as atrocidades de Hitler, sendo elas tão obviamente erradas. A experiência começou numa 2ª feira e acabou na 6ª feira da mesma semana e já foi tema de filmes e de diversos estudos.

Vendo assim, de fora, tendo a história toda contada, não lhe parece óbvio que o que estava acontecendo era nitidamente errado? Não passa pela sua cabeça: Mas como é que eles caíram nesse jogo? Alguma coisa está levando você a pensar que certamente, nos tempos atuais, isso não aconteceria; ou então que isso é “coisa de americano!”. Se algum destes pensamentos passou pela sua cabeça você acaba de se colocar na turma de alunos cujos questionamentos motivaram a experiência toda.... Ops! Mas foram estes alunos os mesmos protagonistas da “Terceira Onda”...

Uma das mais instigantes características da nossa humanidade é que somos seres individualistas que funcionamos coletivamente. Freud já falou muito sobre “Psicologia individual” e “Psicologia Social” e como essa não é a minha área não darei “pitaco”. Somente gostaria de atentar para o fato de que as “ondas”, para existirem, precisam de informação sendo disseminada, opiniões sendo espalhadas e validadas por outros que vão criando volume e direção a medida que se auto-alimentam. Quanto mais a informação lhe for acessível, mais provável será que você encontre uma onda para surfar.

Facilidade, estar na moda, sentir-se atualizado, não sabemos ao certo qual é motivo que nos leva a surfarmos rapidamente nas ondas que se apresentam. Um fato é paradoxal, perdemos um pouco de personalidade ao surfarmos na onda coletiva e ao mesmo tempo sentimos que estamos reafirmando o nosso caráter ou a nossa personalidade quando marcarmos como nossos os argumentos que já se encontram por aí. Acreditamos que reafirmamos a nossa individualidade aderindo a um fenômeno coletivo. Engraçado, não?

A graça acaba quando vemos que multidões, cidades e países inteiros podem perder o senso crítico ao executar o movimento de adesão. O que aconteceu na escola americana, e em maior escala na Alemanha, continua acontecendo aqui mesmo, agora mesmo. Tal vez as conseqüências sejam menos graves, mas as características da formação do fenômeno são exatamente as mesmas. A paranóia da gripe suína fez com que escolas adiassem aulas, aparelhos de ar condicionado fossem desligados, máscaras cirúrgicas se esgotassem, viagens canceladas, etc. Um verdadeiro tsunami que se iniciou com um fundo de verdade e contando com as boas intenções dos participantes (exatamente como começou a Terceira Onda), mas que não correspondia a verdadeira dimensão da realidade. A epidemia de dengue certamente atingiu mais conhecidos seus do que a apocalíptica gripe AHN1. Pelo menos uma dezena de doenças assola o mundo todos os anos com números maiores que os atingidos por essa gripe. Se fosse o Lula diria que “a tsunami virou marolinha”, rsrs. Recentemente a opinião pública mais uma vez condenou unanimemente a faculdade que “esculachou” a mocinha de mini vestido. Jornais, revistas, blogs, telejornais, programas de entrevistas, etc. etc. Todos saíram em defesa da “injustiçada”. Quem teria coragem de defender o indefensável e tentar argumentar contra a onda que se formou? De nada adiantou outros personagens que estavam lá, no momento do ocorrido, narrarem que a história estava contada pela metade, de nada adiantou perceber que “a vítima” estava mais preocupada em não permitir que seus 15 minutos de fama acabassem. Mais uma vez havia um fundo de verdade, a atitude daquelas pessoas não fora correta, mas embora não justifique a grosseria dos alunos, a atitude provocativa e acintosa da “vitima” também não foi prudente e recatada. O linchamento moral que ocorreu fez com que milhares de estudantes passassem a ter uma mancha no currículo, independente da qualidade acadêmica da instituição, ser da Uniban passou a ser similar a carregar a estrela de Davi na Alemanha Nazista. Já sei, balançou a cabeça e pensou: “Exagero!”.... Acertei? Você não está só, a Igreja Católica também pensou que “não era bem assim” o que acontecia com os Judeus naquela época. Se ela levou mais de 50 anos para reconhecer a sua miopia tal vez você não precise desse tempo todo. Chocante, não? Mas a idéia é essa mesma. Inevitavelmente iremos continuar surfando em ondas, e a cada dia com maior freqüência, e já que é inevitável façamos igual a surfista profissional, escolhamos bem as ondas que iremos pegar. Pare, pense, olhe, questione e escolha, só isso!

Apolo.