sexta-feira, 4 de junho de 2010

Mulheres

A história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte. – Oscar Wilde

Um homem só encontrará a mulher ideal quando ao olhar-lhe o rosto enxergar um anjo, e tendo-a nos braços sentir as tentações que só os demônios provocam. – Pablo Picasso

Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma mulher, mas vê-los tentar é comovente. Alguns mandam flores, reservam quarto em hoteizinhos secretos, surpreendem com presentes, passagens aéreas, convites inusitados. São inteligentes, charmosos, ousados, corajosos, batalhadores. Disputam nosso amor como se estivessem numa guerra, e pra quê? Tudo o que recebem em troca é uma mulher que não pára de olhar pela janela, suspirando por algo que nem ela sabe direito o que é.
Perdoem esse nosso desvio cultural, rapazes. Nenhuma mulher se sente amada o suficiente.
-Martha Medeiros

Não sou, nem devo ser a MULHER-MARAVILHA, apenas uma pessoa vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa... uma mulher. – Lia Luff

Sempre fui contra generalizações e “regras comportamentais”, próprias de quem acredita que o ser humano cabe numa dessas simplificações. Com o tempo aprendi que tão errado quanto achar que o mundo inteiro segue padrões é acreditar que não existe padrão nenhum e que tudo apresenta comportamento aleatório e randômico. A repetição de certos quadros nos permite criar cenários de expectativas com relação a relacionamentos e interações sociais. Através do exercício da observação e avaliação podemos criar quadros de referência para usá-los da maneira que melhor nos convier. Aceitar quadros de referências já prontos, celeremente e sem análise é “pré-conceito”; adotar estas referências após observação e validação pessoal é “criar conceitos”. Como decorrência disto, aprendi que, nós homens somos lineares, cartesianos, lógicos e que o nosso exercício de “sensibilidade” consiste em encontrar novas funções lineares, novas lógicas, novas fórmulas. A nossa masculinidade reforça-se neste processo, já mulheres não precisam disso para serem femininas, elas são simplesmente mulheres e sem seguir esse padrão, que para nós é tão lógico, tão verdadeiro, elas conseguem deixar-nos maravilhados, embasbacados, inertes e reféns dessa deliciosa incoerência.

Descobri que nunca conseguirei entender plenamente as mulheres, mas descobri também que não preciso deste entendimento para poder desfrutar de todos os benefícios que o convívio com o sexo feminino nos traz. Mulheres nunca serão sinônimo de rotina e mesmice, a variedade de nuances que elas conseguem dar a uma única situação, por mais repetitiva que nos pareça, é impressionante. Acompanhar o raciocínio feminino é uma verdadeira ginástica mental para nossos limitados cérebros, ela pode estar falando do orçamento doméstico e na frase seguinte já estar se referindo ao colega de trabalho. Não entender que ela já mudou de assunto somente mostrará como você (homem) é limitado e não acompanha a rapidez temática dela. Se você ao cumprimentar mais uma vez a vizinha do apartamento ao lado não reparou que a sua companheira ficou chateada, porque a vizinha “olhou diferente” para você, então você será um panaca ou um dissimulado e não adianta jurar de pés juntos que você não notou nada de anormal, quanto mais tentar se justificar mais errado você estará. O nosso raciocínio linear nunca entenderá porque a nossa parceira fica chateada quando respondemos “azul” à pergunta, “qual vestido você acha que devo comprar, vermelho ou azul?”, o que ela queria era que você respondesse “vermelho” já que ela acha que fica melhor nessa cor e ao responder “errado” você demonstrou que não a conhece e que não tem a sensibilidade suficiente para lidar com as expectativas dela. E neste último caso não adianta dar uma de esperto e dizer “você quer saber a minha opinião ou quer que eu responda para concordar com você?”, tentativa suicida de sair-se bem dessa situação, certamente ela ficará mais chateada ainda e sairá com uma frase do tipo “você não me ajuda em nada, é um grosso!”

Viver tentando acertar a nossa lógica com a lógica delas é ter uma vida sempre renovada, sem marasmos e ainda com a vantagem de ter ao nosso lado um ser doce, meigo e ingênuo, que ao mesmo tempo pode ser incisivo, determinado e astuto ao extremo. Isso sem contar com a beleza e sensualidade que uma mulher pode ter, independente da silhueta ou dos quilos a mais, que elas sempre acham que tem. Um simples toque combinado com um olhar feminino pode ser uma combinação de ternura e sensualidade selvagem capaz de fazer explodir em nós desejos que vão da simples admiração a mais fogosa das volúpias.

O quadro de referência que as minhas experiências formaram está desenhado nesses pequenos relatos (todos verdadeiros), o compartilho na expectativa de ajudar homens que ainda acreditam que poderão enquadrar o comportamento feminino na nossa lógica e entram em litígios diários por isso. Mulher não é para ser enquadrada no nosso raciocínio, mulher é para ser amada, cuidada e desfrutada, a incoerência mais perfeita que Deus conseguiu fazer.

APOLO

quinta-feira, 18 de março de 2010

"Dizem que há religiões suficientes no mundo para os homens se odiarem uns aos outros, mas não para que se amem". - Louis Cyphre – personagem do filme “Coração Satânico” interpretado por Robert de Niro.

Todos nós temos uma religião, mesmo aqueles que se declaram “ateus” têm. O conceito mais aceito para a palavra religião vem de “re-ligar”. Religar o homem a Deus, ou num conceito mais abrangente, é tudo aquilo que a fé ou a (fé na) lógica coloca para explicar o que comprovadamente não tem explicação. Talvez você não pertença a nenhuma religião organizada, com clero, doutrina formal, etc. Mas certamente existe dentro de você um quadro mental que explica o porquê das coisas mais transcendentais do universo. Religião é um assunto tão antigo que, qualquer que seja a sua posição, ela já terá sido seguida por alguém no passado. Você não tem nada de novo a respeito, por mais moderninho ou “cabeça” que possa se acreditar.

Numa discussão religiosa clássica os oponentes estão geralmente guiados pelo pensamento “eu tenho mais razão do que você” e travam uma briga de egos e vaidades tendo como desculpa argumentações doutrinárias. Consigo imaginar pouquíssimas coisas mais inúteis e chatas para fazer e assistir. Não devemos confundir discussão religiosa com proselitismo religioso, que vem a ser o empenho sincero dos seguidores de uma religião em divulgar a sua mensagem, neste caso o argumento é “se é bom para mim, vai ser bom para você também”. Acho que deu para entender a diferença entre ambos. Existe uma linha tênue que separa a discussão de uma divulgação de doutrina, mas é fácil de ser percebida, se a pessoa que é receptora não está interessada na mensagem o que se tem a fazer é deixá-la em paz. Não resisto em transcrever aqui o que ouvi de um religioso “Se falo pouco e com clareza é porque consegui passar as palavras de Deus, se começo a falar mais um pouco é porque sou eu achando que as palavras de Deus não foram suficientes, e se me estendo mais ainda, aí é o diabo querendo atrapalhar toda a mensagem de Deus”.

Quando lemos sobre os recentes massacres na Nigéria, muçulmanos matando Cristãos em retaliação às mortes de Muçulmanos pelos Cristãos deduzimos com facilidade que as religiões não conseguiram resolver o problema de paz e harmonia no mundo. Seguindo a linha de raciocínio, podemos dizer que religiões não têm utilidade nenhuma. Como toda conclusão rápida, esta também é incompleta e tendenciosa. Primeiro: a disputa entre Muçulmanos e Cristãos é uma disputa religiosa ou uma disputa econômica (assim como outras por aí)? Segundo: quem disse que as religiões vieram para resolver os problemas da humanidade?

Você já deve ter ouvido falar que toda guerra tem uma motivação econômica, em grande parte isso é verdade. Em alguns casos a motivação exacerbada pelo poder (vaidade ao nível de psicopatia) é também a origem. A história é mestre em dar nomes bonitos para ocultar os verdadeiros motivos: Guerra da Independência, Guerra Santa, Guerra das Laranjas, Guerra do Futebol (acredite, aconteceu entre El Salvador e Honduras nas eliminatórias da Copa de 70), Guerras Étnicas, etc. Todas elas detonadas por motivos geoeconômicos. Na Nigéria essa disputa “religiosa” é, na verdade, tribal, territorial mesmo. Luta entre fazendeiros que historicamente reivindicam a hegemonia pelo mesmo pedaço de terra. As guerras de Hitler, Alexandre o Grande, Napoleão Bonaparte, etc. foram guerras motivadas pelo poder.

A religião, igual a qualquer outra manifestação cultural humana, não foi feita com o objetivo de resolver todos os problemas da humanidade. Religião serve para explicar o que não tem comprovação, ponto. Nós seres humanos PRECISAMOS de explicação principalmente porque criamos expectativas a respeito do futuro. Temos a necessidade de saber como funcionam as coisas, pois acreditamos que precisaremos desse conhecimento, ou porque precisamos criar um quadro sobre conseqüências futuras de nossos atos. Da mesma forma, quando não vêem a explicação no futuro, algumas religiões se encarregam de colocá-la no passado (carma, maldição, etc.). Legal, religião então é explicação do não comprovado. Entretanto visto somente desta forma, simples e direta, ignoramos um fato que é o que junta milhões de fiéis sob uma mesma denominação: Experiência (de experimentar) espiritual. Sem esta experiência todo conhecimento religioso vira mera religiosidade, sem atingir o objetivo da religião (re-ligar, lembra?). Não tem Padre, Pastor, Mulá, Imã, Rabino, Guia, etc. que possa ter esta experiência por você. Trata-se de um fenômeno pessoal e intransferível. Já vi muitos ateus (os que acreditam que não acreditam) passarem por experiências espirituais transformadoras. Ter todo um arcabouço doutrinário sem passar por vivência espiritual equivale a ter um Porsche na garagem e não andar nele nunca. Religião não é só para explicar, é para ser vivida. Seja ela qual for. De outra forma você vai dizer que tem uma religião (e com certeza você tem), mas e daí?

APOLO.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Pare O Mundo Que Quero Descer.... (Silvio Brito)

Oh! Oh! Oh! Seu Moço!
Do disco voador
Me leve com você
Pra onde você for
Oh! Oh! Oh! Seu Moço!
Mas não me deixe aqui
Enquanto eu sei que tem
Tanta estrela por ai...
- Disco voador - (Raul Seixas)

Recebi por e-mail a trasncrição de entrevista dada a um semanário por um famoso psiquiatra, li e confesso que a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi o título desta postagem. Uma única frase nos dá o tom da entrevista: “As pessoas que estão casadas e são felizes são uma minoria. Com base nos atendimentos que faço e nas pessoas que conheço, não passam de 5%. A imensa maioria é a dos mal casados”. Quando vejo uma afirmação dessas eu não posso deixar de lembrar do livro “Freakonomics”, do economista Steven Levitt, um especialista em apontar bobagens de “especialistas” como o nosso psiquiatra entrevistado. Preste bastante atenção na frase do doutor “com base nos atendimentos...” depois ele conclui que somente 5% dos casamentos são felizes. A lógica usada por ele seria a mesma de um bombeiro ao dizer que “com base nos atendimentos que ele faz 95% das casas pegam fogo”. Será que ele não reparou que as pessoas que o procuram são as que JÁ têm problemas e querer concluir com base nesse universo é uma generalização que não suporta qualquer rigor científico? Só por ai da para perceber que as “conclusões” deste médico são, digamos, um pouco “tendenciosas”. Querem ver? Continuemos. “Quase todos os casamentos hoje são assim.... O primeiro reclama muito e, assim, recebe muito mais do que dá. O segundo tem baixa auto-estima e está sempre disposto a servir o outro... De um jeito ou de outro, o generoso sempre precisa fazer concessões para agradar o egoísta, ou não brigar com ele. Em nome do amor, deixam sua individualidade em segundo plano. E a felicidade vai junto.” Resumindo, para um casamento dar certo ou você entra num relacionamento sado masoquista ou está fadado ao fracasso.

Casamento, namoro, relacionamento entre duas pessoas opostas é “junção de neuroses” explicou-me uma amiga psicóloga e certamente você conhece alguns casais assim, mas isto não quer dizer que a grande maioria dos relacionamentos seja dessa forma. Seria ingênuo desconhecer o grande número de separações que poderiam ser evitadas se as pessoas tivessem noção prévia do que esperar de um casamento. Casar não é um objetivo de vida, viver casado sim. Pessoas normais procuram “complementos" não “opostos”. Veja assim, um pé direito é bem parecido com o pé esquerdo de um par de sapatos, mas eles não são exatamente iguais. Pessoas maduras querem achar o seu par, não o seu oponente.

O nosso “especialista” vomita uma série de conselhos para os jovens: “É preciso que o jovem entenda que o amor romântico, apesar de aparecer o tempo todo nos filmes, romances e novelas, está com os dias contados... Segundo esse ideal, duas pessoas que se amam devem estar juntas em todos os seus momentos livres, o que é uma afronta à individualidade” Qualquer pessoa um pouco mais esclarecida sabe que argumentações com palavras como “todos”, “nenhum”, “sempre” ou “nunca” são generalizações de quem quer forçar a aceitação de uma linha de pensamento. Quem disse que ser romântico é querer passar TODOS os momentos livres juntos? Romântico é sentir-se feliz quando você passa momentos juntos, quando isso vai ser, depende das circunstâncias de vida de cada casal. Procuram-se esses momentos e quando não dá, paciência, saboreiam-se os momentos que já têm se passado junto e sonha-se, com um sorriso nos lábios, os momentos que ainda irão passar juntos. Quer coisa mais romântica do que essa? Claro que se uma das partes não faz a menor questão de que estes momentos aconteçam criando outros “compromissos” com assiduidade, alguma coisa está errada. O mais provável é que o casal já tenha deixado de ser um casal há algum tempo, o problema não é de preservação de individualidade e sim de não querer cultivar a vida a dois, que a princípio deveria ser uma das motivações de duas pessoas que curtem ficarem juntas, independente das circunstâncias.

Mas isto tudo é só a minha opinião, a minha maneira de ver e de tentar viver a minha vida, eu não sou “especialista”, portanto corro o sério risco de estar errado e o psiquiatra entrevistado estar certo. Se isto for verdade, então, volte ao título desta postagem.

APOLO.