sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Paz, amor, saúde e outras mentiras

Uma das maiores mentiras do ser humano fica evidente nesta época de fim de ano. Se são todos pela paz, pelo amor, pela saúde, etc. então porque vivemos num mundo com guerras, desamor e doenças? Sabendo que a nossa realidade mundial é o resultado coletivo de milhões de decisões individuais então, chegamos à conclusão de que tem muita gente passando-se falsamente por pacifista, amoroso e sadio.

Espera-se que o leitor deste blog não se encontre na categoria dos que colocam a culpa dos dissabores da vida no governo, no sistema econômico, no destino, no diabo, em Deus, etc. O responsável por tudo aquilo que tem lhe acontecido até agora se encontra neste momento bem em frente à tela do computador e, de uma maneira ou de outra, essa mesma pessoa acabou contribuindo com a sua parcela de culpa com o que coletivamente acontece na sua família, no seu bairro, na sua cidade, no seu país e no mundo.

Socialmente nos comportamos criando grupos de identidade ou de interesse comum com o propósito de atingirmos um objetivo de maneira mais eficiente. Gangues, empresas, partidos políticos, igrejas, clubes, países têm este princípio básico de constituição. Entretanto, o ser humano aproveitou este conceito para criar um ser etéreo o qual pode ser responsabilizado por todas as falhas, livrando o indivíduo da sua cota de responsabilidade.

Certamente você já foi a uma reunião onde ouviu um participante dizer “a empresa decidiu...” Bem, a empresa não existe, a empresa não decide, a empresa não acerta nem erra. As pessoas que representam a empresa ou têm poder para decidir é que decidem, acertam ou erram. Claro que colocar as decisões dando o nome para cada gerente, diretor ou executivo provocaria um clima instável na empresa, mas uma coisa é falar “a empresa decidiu...”por motivos políticos, e outra é imaginar que essa tal de empresa realmente exista e que tem vontade própria podendo ser responsabilizada pelas falhas e louvada pelos acertos.

O paralelo acima se aplica também para a sociedade como um todo. A sociedade não existe, trata-se de um conceito abstrato para identificar o somatório dos indivíduos. As ações da sociedade como um todo refletem o somatório das decisões e ações dos membros que a compõe. Por este princípio indivíduos pacifistas gerarão uma sociedade pacifista, indivíduos amorosos gerarão uma sociedade amorosa, e por aí vai. Mas o que é que vemos na realidade? Sociedades com alto índice de violência, com diferenças sociais, com guerras, etc. Curiosamente vemos também que se colocarmos este tema seguindo a linha de raciocínio até aqui desenvolvida iremos obter como resposta do interlocutor algo como “as pessoas são pacifistas sim, mas os líderes, os donos do sistema têm interesses maiores e isto nos leva a uma sociedade com guerras”. Como ditaduras são cada vez mais raras, este raciocínio cai por si só. Mesmo numa ditadura este raciocínio não se sustentaria, basta lembrar que a ditadura no Brasil foi instaurada com o apoio da população que acreditava seria melhor do que aderir ao comunismo... mas essa é outra história.

Discurso é uma coisa, realidade é outra. Antes de começar a pensar no clichê dos políticos pense em você mesmo. Caso lhe perguntassem o que classificaria como as 5 coisas mais importantes na sua vida, o que você responderia? Amor? Saúde? Paz interior? Dinheiro? Seus filhos? Faça a sua lista. Muito bem. Agora faça uma análise do seu tempo e veja o quanto tem se dedicado para aquilo que você destaca como prioridade. Já sei, vai dizer que o trabalho dedica mais tempo por uma questão de obrigação então a quantidade de tempo não conta. Mude o parâmetro então, dentro daquilo que é considerado como prioridade para você contabilize as suas conquistas mais recentes, por exemplo, se você colocou “amor” como a sua primeira prioridade enumere as vezes em que você praticou amor ultimamente, não estou me referindo a esse amor “impessoal” que outros chamam de caridade, mas de amor para perdoar quem ofende, dar sem esperar em receber, não se preocupar com os seus próprios interesses, etc. O resultado desta contabilidade é compatível com o que você mesmo chamou de prioridade? Humm.... Vamos combinar um conceito então? Prioridade na sua vida não é (necessariamente) aquilo que você declara ser prioridade, mas sim aquilo que você se dedica com mais ênfase e eficiência para conseguir frutos, vitórias, metas, etc.

Prioridade para a sociedade também é aquilo que ela conquista com mais eficiência, aquilo que o conjunto de indivíduos tem obtido devido à ênfase que tem dado nas suas vidas. Cartões com desejos de paz, amor, saúde, são unanimidade neste fim de ano, mas a prática disso certamente tem se demonstrado outra. Enquanto acharmos que a culpa desta disparidade é do governo, do sistema, dos outros as coisas continuarão as mesmas. Quem sabe uma boa resolução de ano novo seja acertar a sua lista de prioridades com a sua lista de feitos e realizações? Se isso vai mudar o mundo eu não sei, mas quem sabe se você conseguir mudar o seu mundo seja o único passo que realmente interessa a você. Só assim talvez, quando somarmos as realidades individuais veremos que “a sociedade” mudou também.

FELIZ ANO NOVO!

APOLO

domingo, 16 de novembro de 2008

Lidando com pessoas “importentes”

Como já falei anteriormente a maioria do que escrevo aqui vem de experiências que me levaram a re-pensar o que havia aceitado como uma resposta automática e aparentemente correta. Neste caso o acontecido se deu no meu trabalho, estava lidando com uma situação rotineira, tentando atender uma reclamação de um cliente, procurei ser o mais profissional possível e enviei uma correspondência explicando qual seria o procedimento mais adequado para atender às suas solicitações. Recebi uma resposta grosseira dizendo que não aceitaria as minhas sugestões, que faria as coisas do jeito que ele achava que deveriam ser e que não aceitava réplicas. Estava diante de um cliente importante e ao mesmo tempo diante de um ser prepotente, uma pessoa IMPORTENTE. A primeira coisa que veio a minha cabeça ao ler a resposta foi a imagem da pessoa vestindo roupas infantis com um pirulito na mão e batendo pezinho de raiva. Bom, criança a gente não deixa fazer pirraça sem que leve um corretivo então a segunda coisa que pensei foi como articular e efetivar o devido puxão de orelhas. Foi ai que veio o re-pensar, finalmente decidi que a atitude mais sábia seria a de não fazer nada.

Levar desaforos de clientes ”importentes” é uma das coisas mais comuns para quem tem que lidar com eles no seu dia-a-dia. Lembro que uma vez na fila do cinema um senhor acompanhado de uma criança pré-adolescente gritava com o bilheteiro porque teria que assinar um documento permitindo o filho assistir um filme acima da sua faixa etária de censura. “Que palhaçada é essa!”, “chame o gerente para falar comigo!” berrava ao mesmo tempo em que batia com a mão no balcão. O gerente explicou calmamente que teria efetivamente que assinar o documento, ele assim o fez e jogou o papel para dentro da bilheteria, saiu resmungando. Não consigo lembrar do gerente nem do bilheteiro mas não esqueço da cara do idiota que conseguiu dar um péssimo exemplo para o filho e que fez questão de mostrar-se um imbecil na frente de todos os que estavam na fila. Foi exatamente essa lembrança que me fez decidir não responder.

Óbvio que a reposta mal educada não veio só para mim, ela foi copiada para várias outras pessoas, numa rápida checagem com os outros destinatários pude perceber que eles eram na realidade “as outras pessoas da fila”. Ao igual que o pai destemperado, que terá que continuar assinando o documento cada vez que quiser ir ao cinema com o filho menor, esse cliente terá que continuar lidando comigo se quiser continuar comprando o que tenho para vender, como a decisão de compra não passa pela sua alçada outros negócios serão inevitáveis. A única coisa concreta que mudou foi o conceito desse cliente perante os meus pares. No final fiquei até com pena da pessoa, não havia uma única alma que a defendesse ou que tentasse ser condescendente com o seu ato. Visto isto me perguntei, será que preciso responder a este ataque? O mal que tinha que ser feito já havia sido feito, e pela própria pessoa, mas para a sua imagem e reputação. Que corretivo você precisaria dar em quem consegue dar um tiro no próprio pé?

“Não levo desaforo para casa” nessa frase queremos dizer que se alguém “nos dá um fora” nós não devemos permitir, afinal de contas “quem ele pensa que nós somos?”. Veja agora deste ângulo, analisemos o sucedido na fila do cinema, o bilheteiro e o gerente não precisaram devolver o desaforo e serviram de exemplo de como lidar com clientes “importentes”, mas o cliente passou a ser o idiota que serve de referência de mau exemplo para todos. Visto assim quem está levando o desaforo para casa é o próprio “desaforado” e não as suas supostas vítimas.

Outra idéia que poderia passar pela nossa cabeça é a de que ao deixarmos de dar o troco a um desaforo recebido estaríamos passando a imagem de submissos ou subservientes. A sua imagem não depende da atitude de uma criança velha que bate perna e diz impropérios para você, a sua imagem depende de um conjunto de atitudes e de até como você vai lidar com pessoas desse calibre. Do mesmo jeito a imagem da outra pessoa não depende da resposta que você por ventura possa dar. Qualquer resposta que você der não vai ser absorvida por alguém que não está a fim de ouvir e aprender, mas de auto-afirmação. Então para que perder o seu tempo? E finalmente, certamente a pessoa esperava por uma resposta, a qual não teve, este fato não deixou de ter um gostinho nada louvável em mim, fico imaginando o cliente “importente” sentido-se frustrado igual a criança mimada que reclama por atenção e não a recebe, deve ter ficado com mais “raivinha” ainda, e o melhor é que eu não precisei fazer nada. Têm coisas que realmente não têm preço.

APOLO

domingo, 9 de novembro de 2008

O fim do mundo está próximo?

Aquecimento global, desastres climáticos, terremotos mais freqüentes, guerras étnicas, quebra financeira mundial, banalização dos princípios morais, etc. Será que isso tudo nos leva a crer que efetivamente estamos nos últimos dias da história do homem na terra?

A reposta a essa pergunta só pode ser uma destas três: Sim, não ou não sei. Se você é uma pessoa que já tem opinião formada, ótimo! Não tenho a menor intenção de mudá-la. Mais importante do que dizer qual é a minha opinião ou de tentar mudar a sua acredito ser falarmos um pouco sobre o que você está fazendo ao respeito disso.

Se você acredita que sim, por convicções religiosas ou porque se tem como um grande estudioso dos profetas, sinais, estrelas, oráculos, seja lá o que for, legal! Agora pergunto: e daí? De que tem lhe adiantado saber (ou crer) que o fim está próximo? Este conhecimento lhe deu a certeza que no fim você seria resgatado (abduzido, arrebatado, etc.) e levado para outro lugar onde não haveria os problemas que enfrentamos nesta Terra chula e vulgar. Perfeito! Conseguiu paz no seu coração, fez uma esperança virar certeza pelo instrumento da fé, maravilha! Mas, futuros apartes após essa tomada de consciência você acordou no dia seguinte com as mesmas contas para pagar, a obrigação de chegar cedo ao trabalho, os filhos exigindo coisas, o(a) cônjuge pedindo mais atenção, as notícias do jornal falando o mesmo. Esta parte poderia ter até trilha musical do Chico Buarque: “todo dia ela faz tudo sempre igual...”. Seria bom se pudéssemos ir ao banco e dizer ao gerente “olhe ontem eu descobri que o mundo vai acabar logo, portanto não adianta me cobrar aquele empréstimo porque o dinheiro não vai ter mais nenhuma utilidade”. Bom, deu para perceber que mesmo tendo conseguido o alívio de saber que no futuro você será resgatado, no presente não houve nenhum fato que efetivamente mudasse o seu dia a dia. A não ser que você decida virar um arauto do fim dos tempos e passe a viver de doações ou cobre pelas suas palestras, essa mensagem apocalíptica não ajudará a suprir suas necessidades financeiras. A única maneira que eu acredito que a convicção de que o fim está próximo pode lhe ajudar na prática é se você se convencer que as coisas ficarão cada vez mais difíceis e, portanto você precisa trabalhar mais agora, juntar mais recursos agora, criar condições agora de poder sustentar-se quando o Apocalipse se concretizar. Caso você faça parte do grupo de pessoas que acredita que o fim está tão próximo que não precisa se preocupar com o futuro, parabéns! Você faz parte do grupo que um dia estará certo! O problema, é que existe a probabilidade de você não estar presente nesse grupo quando a predição se confirmar e, enquanto isso, a única coisa que você conseguiu dar fim foi ao seu crédito, às suas realizações e a todo o conjunto de experiências gratificantes reprimidas pela falta de uma expectativa de futuro. A sua certeza de que o fim estava próximo vai conseguir dar fim ao seu futuro próximo se você agir como se o futuro não existisse mais.

Caso você acredite que o fim não está próximo e que essa história toda não passa de fanatismo religioso ou de conversa de bruxo esotérico, legal! Também não vou querer aqui que mude de opinião, mas pergunto: e daí? Você já parou para pensar por um momento que existe a remota possibilidade de você estar errado? O problema não é estar errado, o problema é: o que aconteceria com você caso você estiver errado? O raciocino aqui é o mesmo da decisão de jogar roleta russa. A maior probabilidade é de que ao apertar o gatilho o tiro não dispare, o que leva você a não jogar roleta russa não são as chances de ganhar mais sim a conseqüência de estar errado. Por esta lógica, não importa o quanto você está preocupado hoje com o seu dia a dia, a melhor coisa que você tem a fazer é começar a tomar atitudes preventivas que aliviem a sua barra num suposto julgamento final. Quanto mais altruísta e amoroso com os outros você for agora, melhor condição constrói para si no futuro improvável e o que é melhor: começa a ser uma pessoa melhor agora. As suas contas continuarão sendo pagas já que você continuará sendo uma pessoa lógica e racional, focada em resolver os seus problemas atuais, manter a sua reputação de bom pagador, etc. A única diferença é que ao tentar marcar pontos para o futuro tendo atitudes menos egoístas e mais compreensivas com os outros passará desde já a ser uma pessoa mais amada e com benefícios para sua alma. Você pode estar pensando: “Eu não acredito em fim do mundo, mas ao mesmo tempo eu já tento ser amoroso(a) e compreensivo(a) com os outros, tenho até religião, mas a minha religião não acredita em fim do mundo, então nada disso se encaixa em mim”. A não ser que a sua religião proíba acesso a outros livros recomendo que leia um pouco sobre o que se apregoa serem sinais do fim dos tempos e faça uma checagem com o cenário atual, no mínimo as suas convicções serão abaladas, garanto.

Se a sua resposta à pergunta inicial (se acredita estarmos no fim do mundo) foi “não sei”, permita-me dar-lhe um conselho: Procure saber, forme opinião ao respeito e igual a jogo de tabuleiro depois volte duas casas se a sua opinião for “sim acredito” ou então somente uma casa se a sua resposta for negativa. Tem muita coisa acontecendo por aí para você ficar fora dessa.

APOLO

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A identidade do autor

Recebi alguns questionamentos a respeito da minha identidade. Os mais próximos sabem exatamente quem sou eu, outros, entre distantes e não tão distantes assim, começaram a receber o e-mail semanal convidando para a leitura deste blog sem saberem exatamente quem sou. Cheguei a receber e-mails ameaçadores, do tipo “identifique-se ou me retire do seu mailing list”.

Acredito que neste mundo conturbado e violento onde hackers têm o sadismo de enviar vírus só pelo prazer de verem seu mal se espalhando seja muito razoável querer se proteger de intrusões virtuais. Mas precauções a parte quem já leu este Blog percebeu que o autor só deseja se divertir escrevendo e espalhando estas linhas pelas marés das bandas largas e linhas discadas da web. O axioma é bem simples “eu me divirto escrevendo, quem sabe você se divirta lendo?”. No meu digitar coloco coisas que aprendi ao longo da minha vivência, tal vez você se identifique com elas ou então descubra um novo ângulo de ver aquilo que você está tão acostumado a enxergar todo dia do mesmo modo.

Mas porque será que existe essa necessidade de conhecer a identidade de quem escreve? Falemos sobre os dois motivos mais óbvios:

- “Diz com quem andas que te direi quem és” Você precisa identificar se a pessoa que está enviando mensagens pertence a algum grupo que referencie o seu mesmo jeito de ver as coisas ou se ela professa o seu mesmo credo. Isto faz parte da sua auto-afirmação social de conceito de grupo. Muito lógico, muito natural. Afinal de contas você é uma pessoa de convicções e tem orgulho de agir de acordo com o que você acredita ser o certo, porque dar ouvidos a alguém que pode ter idéias ou conceitos diferentes dos seus? Este é o motivo da sua necessidade de saber a identidade do autor? Legal, você não está sozinho(a). A história esta cheia de exemplos similares. O que me vem mais rapidamente à mente é o daquelas pessoas certinhas, defensoras da lei e da ordem que mandaram crucificar um arruaceiro que vivia rodeado de bêbados, glutões e prostitutas. Longe de mim tentar ser um cristo virtual! Mas essa sua lógica o colocaria de que lado da multidão frente a Póncio Pilatos? Se você vai alegar que esse foi um caso único na história já vou lhe dizendo que o Holocausto, o Apartheid, a Revolução de 64, etc. tiveram o mesmo DNA, o que detém o gene da separação e exclusão daquilo que não pertence ao grupo dominante. Neste caso o grupo dominante é o grupo de conceitos que dominam você.

- Precisa saber se o autor efetivamente pratica o que escreve? Somente saberá se tiver meu nome revelado, certo? Uhhmmm... a primeira coisa que consigo me lembrar é de um amigo meu que afirmou cheio de convicção, “eu não pertenço a nenhuma religião porque até agora em todas as religiões que eu freqüentei pude ver que as pessoas não seguiam 100% o que elas defendiam como certo” Óbvio que até agora ele não conseguiu se filiar a nenhum grupo religioso. Quem me conhece sabe que é mais fácil lembrar os meus defeitos do que as minhas virtudes. Mas e daí? No que isso pode mudar o conteúdo e o sentido do que está escrito? As palavras, idéias, conceitos e paradigmas têm força por si só, não precisam nem de mim nem de você para existirem. Esse joguinho de “olha quem está falando?!” somente serve para brigas de namorados adolescentes. Quem está disposto e aberto a realmente aproveitar novas idéias e conceitos ou a romper seus paradigmas não está preocupado com quem está falando, mas na força daquilo que está escrito para sua própria vida. Somente assim quem lê estas linhas poderá curtir a viagem nas minhas experiências quando encontrar algo de utilidade para si.

É isso ai, não permita que conceitos ou doutrinas sejam contaminados pelos mensageiros. Faça com que o jogo seja entre as idéias e você, somente assim poderá tirar o máximo proveito delas, ou então reafirmar os seus próprios conceitos. Neste processo o que menos importa é a identidade do autor.

APOLO

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

VERDADES QUE APRISIONAM, MENTIRAS QUE LIBERTAM

Um dos mais clássicos versos bíblicos diz “a verdade vos libertará” e, como tudo que é tomado fora do contexto, acabou virando desculpa para podermos agir colocando a verdade como o único preceito moral a ser aceito como justo, certo e digno de ser levado em conta para nortear os nossos atos. Se você acha que a verdade está acima de tudo então encontrará aqui uma voz discordante.

De antemão descarto a defesa do falso, da mentira, do engodo. O que questiono é a prevalência da verdade acima de todos os outros objetivos moralmente desejáveis. Ao mesmo tempo advogo pela mentira, pela falsidade como um caminho para construir fortalezas ou diminuir fraquezas nas nossas vidas. Paradoxal? Nem tanto.

Se em alguns momentos a verdade pode ser prejudicial e em outros a mentira pode ser construtiva, como então decidir em que momento escolher por uma ou por outra? Fácil: Pela conseqüência esperada.

Tentarei ilustrar através de um exemplo. Suponhamos que você foi magoado por alguém, suponhamos que essa pessoa tenha agido de maneira leviana contra você e que você tenha conseguido reunir provas da premeditação do ato. Você então tem todas as razões do mundo para estar magoado, isto é uma verdade! A pessoa agiu de má fé contra você, também é verdade! Você não tem a menor intenção de deixar passar isso em branco e os seus sentimentos estão verdadeiramente feridos. Pronto! Você acabou de levantar uma verdadeira prisão de “verdades” ao redor de você mesmo. Cada vez que lembrar o ocorrido não conseguirá andar além das grades de verdades que você levantou. Lamentavelmente poucos são os que percebem que estão presos, muitos chegam a defender as verdades como tesouros que justificam as suas mágoas e rancores. Ponto pacífico que mágoa e rancor não são bons para ninguém. “Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra." (William Shakespeare). Como fazer então para sair desta prisão de verdades? Simples de falar, difícil de fazer: Criando um cenário de mentiras construtivas. Fingindo que não estamos magoados, que efetivamente já perdoamos, que não damos a mínima para o que aconteceu, achando graça do episódio como um todo, etc. Não me peça para explicar como funciona, mas o resultado será que em algum momento o seu alvará de soltura será emitido e você estará fora dessa prisão. Existe uma Lei no Universo que premia tudo aquilo que a gente faz com disciplina e dedicação, por esta Lei aquilo que começou como uma mentira será transformado em verdade e o beneficiado será você.

Os nossos gostos, sentimentos, desejos, as nossas opiniões, etc. tudo isso também pode funcionar como verdades que aprisionam. Mesmo sem lhe conhecer posso garantir que o seu baú de verdades está cheio de argumentos que não permitem você se relacionar melhor com outras pessoas, ou que impediram você de começar aquele regime por tantas vezes adiado. O certo é que se você esperar a vontade de perdoar chegar para perdoar, você nunca perdoará; se você esperar a vontade de comer menos e de malhar chegar, você nunca fará nem uma coisa nem outra. Aprenda a praticar a mentira construtiva, o fingimento que permitirá que as suas metas sejam alcançadas e que o seu dia a dia seja mais alegre, ria quando não tiver vontade e as pessoas verão em você um ser sempre feliz, o resultado? Você será um ser sempre feliz. Duvida? Comece agora a fingir que você não se importa mais com aquilo que o está incomodando, não pare de fingir, continue, continue. Depois me conte se funcionou.

Apolo

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A vida não é um jogo de xadrez

A frase título desta postagem pode parecer óbvia, mas pensando um pouco mais verá como existe um sem-fim de pessoas que acreditam que efetivamente a vida é um jogo de xadrez, uma competição, uma guerra, uma constante luta de interesses contrários.

Muito já se falou sobre luta de classes, resolução de conflitos, arte da guerra, etc. Existe até uma teoria matemática chamada “teoria dos jogos” cuja aplicação vai desde o flerte até o comportamento dos agentes econômicos para extrair valor de algo. Quem tiver interesse sobre estes assunto encontrará farto material na Internet, discorrer sobre isso tudo não é o meu objetivo. O que estou querendo dizer é que existe um paradigma no mundo em que vivemos que preconiza que estamos em constante resolução de conflito de interesses.

Se você entra numa loja o foco do vendedor será em conseguir que você gaste o maior dinheiro possível do outro lado você só aceitará gastar por algo que for do seu agrado e em alguns casos pedirá até desconto; No trabalho você acredita que você e o seu patrão têm interesses diferentes e pode colocar ai toda a lengalenga que os sindicatos têm como chavão; Ainda no ambiente de trabalho você vê o seu colega como rival para uma promoção; na escola o aluno costuma ver conflitos com os professores; quantos relacionamentos você conhece que viraram verdadeiras quedas-de-braço entre o casal?

“Todo o dia o leão terá que ser mais rápido que a mais lenta das gazelas para poder comer e a gazela terá que ser mais rápida que o mais rápido dos leões para sobreviver, não importa se você é leão ou gazela, todo dia você vai ter que correr o mais rápido que você puder” Diz um velho ditado africano que é tido como um ícone da competitividade. Outro ditado mais conhecido diz que “o peixe grande come o peixe pequeno”. Pronto! A nossa vida virou uma metáfora zoológica, somos peixes, leões ou gazelas em busca pela sobrevivência tendo que identificar quem são os nossos predadores ou as nossas presas. Se viver é isso mesmo vou ter que pedir emprestada a frase do Silvio Brito e dizer “pare o mundo que eu quero descer!”

O meu lado visionário, puxado pela minha personalidade aquariana me compele a dizer que se você é uma pessoa que tem a sua vida pautada por lutas e conflitos de interesses então você é um espécime em extinção.

Sim, sim, sei muito bem que conflitos e guerras existem desde que o homem passou a ter livre arbítrio, não sou ingênuo em acreditar que o amor e a paz reinarão porque nós decidiremos viver num mundo de harmonia e altruísmo mútuos. Guerras, guerrilhas, conflitos religiosos, conflitos sociais, etc. vão continuar existindo por muito tempo ainda. Não estou me referindo a esse tipo de conflito, estou me referindo aos conflitos de interesses que você enxerga na sua vida levado pelo paradigma de que tudo nesta vida é uma luta, um jogo de xadrez onde sempre têm vencedores e derrotados, e claro onde você tem que fazer de tudo para estar ao lado dos vencedores.

Quer deixar um americano profundamente ofendido? Chame-o de “looser” (perdedor). Por quê? Porque o mundo deles é feito de “vencedores” e “perdedores” e obviamente ninguém quer ser considerado um pária da sociedade. Calma! Também não vou discorrer aqui todo aquele fel antiamericano tão comum por ai. É de lá que também vem uma nova visão que acredito será a mais útil num mundo tão competitivo como o nosso. O jogo do win-win (ganha-ganha). Uma competição em que ambos ganham, será possível?

Vamos analisar algumas situações de conflitos clássicos para ver como funcionaria:
- Numa transação comercial comprador e vendedor teriam que deixar de lado o interesse individual para assumir que existe um interesse comum o qual poderia ser “continuar fazendo negócios juntos” para isto acontecer o ganho de ambos terá que encontrar um meio termo o qual deixe ambos satisfeitos, uma negociação com esta premissa levará a um jogo de win-win.
- Nas relações trabalhistas o empregador tem que abrir os olhos para perceber que tanto ele como o funcionário não estão em lados opostos do tabuleiro, ambos precisam da continuidade da empresa, isto já é um interesse comum. Por outro lado quem dá o balizador das demandas trabalhistas é o mercado assim como é o próprio mercado quem diz a qual preço os produtos ou serviços da empresa podem ser negociados. Imaginem uma empresa onde os funcionários exigem constantemente aumentos salariais, claro que vai chegar uma hora em que o patrão verá que as outras empresas têm quadros mais baratos e fará todo o possível para renovar a sua folha a custos mais atrativos. De outro lado se o empregador tentar achatar os salários e não compartilhar lucros com os seus funcionários terá pessoas menos motivadas e, portanto menos produtivas que farão de tudo para mudarem para outra empresa com maiores remunerações. Quando o gestor da empresa conseguir formar uma cultura organizacional onde este conflito de interesses não exista, mas onde seja claro o objetivo comum, muita energia deixará de ser gasta em negociações trabalhistas e poderá ser aplicada para obter maiores fatias de mercado e maior lucratividade para a empresa como um todo. Utopia? Claro que não, não vou falar nome de empresas aqui, mas se você perguntar por ai verá que já existem empresas onde esta nova cultura está prevalecendo.
- O dia que ouvi da minha antiga parceira a frase “as coisas tem que ser sempre do teu modo” eu percebi que o nosso relacionamento estava em crise. Se existe um lugar onde o interesse comum TEM que imperar é no relacionamento amoroso, poderia dar uma de romântico e dizer que o interesse comum seria “o de agradar o outro”, mas vou ser mais prático e dizer que o interesse comum é o de “manter o relacionamento”. Algumas meninas que estão lendo devem estar se perguntado “Mas Apolo, será que você não estava tentando fazer as coisas da SUA maneira mesmo?” Bingo! Acabaram de se denunciar. Relacionamento para vocês é um jogo de xadrez mesmo. Cada um chama de “relacionamento” o que quiser, eu vou falar o que deveria ser para mim: Duas pessoas ficam juntas porque têm algumas (muitas) coisas em comum (sem essa que pólos opostos se atraem, fale com um analista que ele explica melhor o porquê), entretanto essas duas pessoas não são iguais, tem outro tanto de coisas diferentes, mas que ao colocar na balança acharam que seria irrelevante para mudar a idéia de ficarem juntos. Pronto, é isso. No dia-a-dia o que é diferente é irrelevante, o que é da tua maneira ou da maneira dele(a) é irrelevante, mas e aquelas coisas relevantes que apareceram depois de ficarem juntos e existem diferenças? Bom no xadrez você não fala a sua tática, você simplesmente tenta vencer, mas num relacionamento comunicação é vital. Como num relacionamento de verdade o interesse comum é em “manter a relação” a maneira do consenso passará a ser a “nossa maneira”. Esse papo de “teu modo” é porque ou você está querendo discutir por coisas banais ou então porque você não se deu o trabalho de ter um dialogo prévio preferindo ir logo para o confronto e dar um xeque no adversário acusando-o de fazer as coisas do jeito dele(a). Relacionamentos de verdade são perfeitos? Claro que não, mas uma reclamação mais apropriada seria “você não está fazendo como nós havíamos combinado”... sacou?

Convido-o-(a) para uma exploração na sua rede de relacionamentos: no trabalho, em casa, nas ruas, nas lojas, na sua família, na sua religião, etc. Avalie se você está sentado(a) a frente de um tabuleiro de xadrez, mas deveria se levantar e passar a jogar o jogo do win-win. Dê um xeque-mate no seu orgulho e passe a ver uma outra maneira de poder ganhar o jogo. E se o seu “adversário” não quiser jogar esse novo jogo? Bom, acredita que isso não faz a menor diferença? Por quê? Acabou o tempo, mas prometo que eu conto na semana que vem.

domingo, 28 de setembro de 2008

O que metais alcalinos têm a ver com o subjuntivo do futuro composto?

Será que você consegue localizar na tabela periódica, metais alcalinos, semi metais ou gases? E o que dizer dos modos verbais? Que tal tentar explicar qual a diferença entre um verbo no indicativo do futuro do presente e no subjuntivo do futuro composto? Caso você saiba a resposta de uma das perguntas certamente não saberá das duas ao mesmo tempo. Se agora que já se passaram alguns anos que saímos da escola não nos lembramos mais de nada disso porque será que continuam insistindo que nossas crianças sigam estudando estas e outras coisas que não lhes serão úteis no seu futuro? Se a resposta é “para ter cultura geral” porque então não são ensinados com mais ênfase em matérias como pintura, música, cinema, teatro, etc. Se a resposta é para “aprenderem algo que terá utilidade no seu futuro” porque o viés profissionalizante é somente para algumas escolas e não para todas? Porque não são ensinados conceitos básicos de administração de empresas, economia, gestão, logística, psicologia, empreendedorismo, etc.?
Se você tem (teve ou terá) filho na idade escolar a pergunta “para que serve tudo isto que estou aprendendo?” é uma certeza, ocorrerá mais cedo ou mais tarde. Se você nem lembra mais daquilo que ele está estudando então como responder a esta inquietante indagação? A criançada de hoje em dia não vai ficar satisfeita com a resposta que você recebeu do seus pais, posso não saber qual foi, mas posso imaginar algo como “porque é a sua obrigação, eu aprendi na sua idade então você também vai ter que aprender”. Crianças de hoje conseguem “zerar” vídeo games cujas caixas não trazem manuais de instruções e com diálogos em um idioma que não compreendem. Elas vão pulando de “fase em fase” através de auto-aprendizado e ajuda cooperativa com os colegas e somente abandonam o jogo quando o terminam para logo depois passar para outro. Então é melhor ter outra resposta a não ser que você queira concordar com ele e comece a dizer “acho um absurdo mesmo! Tanta coisa que não vai usar no futuro e não sei por que tem que aprender?” Ele poderá até ficar feliz com você agora, mas isso não vai ajudá-lo na escola e certamente sentirá pena de você no futuro quando ele descobrir que você estava completamente errado.
Todas as escolas têm que seguir o mesmo currículo, algumas conseguem outras não, mas mesmo entre as que conseguem existe uma grande diferença na qualidade do aluno que ali estuda e que se reflete nos Enem’s e vestibulares da vida. É nesta diferença que enxergo o verdadeiro motivo não somente de freqüentar uma escola como o de ter de aprender modos verbais e tabelas periódicas.
Escola serve para aprender a aprender, e ela será tão bem sucedida quanto o muito deste processo puder ensinar aos seus alunos. Os anos passados nos bancos escolares servem para refletir tudo aquilo que os nossos filhos irão enfrentar fora das grades da escola. Repare na sala de aula, ali já se encontram todos os estereótipos da nossa sociedade não somente no alunado, mas também no corpo docente. Uma vez a minha filha comentou que a professora de português dela era muito ruim (não foi bem essa a palavra que ela usou, mas o sentido era esse mesmo) disse inclusive que um grupo de alunos havia ido ao Diretor fazer queixa e a resposta fora “Sabemos do problema, vocês não são os primeiros a reclamar disso” Entretanto nada mudara, as provas continuavam difíceis e segundo ela a matéria insuficiente. Só lhe restou buscar reforço escolar por conta própria, juntar-se com as amigas e fuçar a internet para suprir a deficiência, foi um sufoco, mas ela e as amigas conseguiram aprovação na matéria. Nesse ano a minha filha aprendera a superar obstáculos, a saber que nem sempre a vida é do jeito que deveria ser, que perante uma situação que possa ser injusta com ela só lhe restará superação através do esforço próprio. Sei, sei, muitos vão dizer que o exemplo é ruim, que a escola tinha que trocar a professora, etc. e tal, mas atentem para o fato de que a superação foi coletiva, não individual, a escola através dos anos tinha conseguido ensinar aos seus alunos que eles não somente devem reivindicar pelos seus direitos como também devem buscar soluções com os seus próprios esforços e não esperar exclusivamente que a resposta venha de terceiros, sobretudo quando é o futuro deles mesmos que está em jogo. Uma vez a minha filha me disse “Pai, eu sei que reclamo da minha escola, sei que ela é difícil, mas eu não quero deixar de estudar nela, não gostaria de estudar em uma escola que não me exigisse do jeito que esta me exige”. Se você está pensando que a minha filha é “nerd”, está muito enganado, ela adora essas coisas todas que adolescente gosta, é um sacrifício para ela acordar cedo, tem Orkut, MSN, não perde um dia o ranking da MTV, e por aí vai. Mas foi ela quem apontou para a resposta da pergunta fatal: A escola serve para exigir que os alunos se esforcem num processo de aprendizado. Como esse aprendizado tem que ter um conteúdo, colocamos ali tabelas periódicas, modos verbais, fórmulas de física, e outras coisas que, além de nos darem cultura geral, nos serão úteis de alguma maneira.
Já deu para perceber que se credito à escola um objetivo de formação disciplinar, acho então, um crime contra a Educação o regime de “aprovação automática”, que é a maneira pela qual, os que deveriam ser responsáveis por ensinar os alunos a criarem mecanismos de aprendizagem, tentam burlar a responsabilidade pelo mau desempenho escolar. O mesmo crime pode estar sendo cometido dentro da sua casa cada vez que você não cooperar com a formação do seu filho usando mecanismos minimizadores de esforço. Como? Dizendo que a escola que ele está é fraca (ou forte) demais mesmo e que a culpa não é dele; que o horário é um absurdo e que (só hoje) pode dormir mais um pouco; que muitas das coisas que são ensinadas são inúteis mesmo; que o que ele deixar de aprender agora poderá recuperar num “cursinho pré-vestibular” no futuro e por ai vai.
Fique a vontade para usar a minha resposta (ou da minha filha) se concordar com ela, e fique a vontade também para discordar dela e usar outra qualquer só não fique a vontade para deixar de dar ao seu filho os valores que ele irá precisar usar no futuro. O problema é que o futuro embora pareça incerto sempre chega.
APOLO.

domingo, 21 de setembro de 2008

Por que você está me olhando?

Existem algumas coisas, de aparente irrelevância, que acabam desapercebidamente nos marcando. Lembro claramente a imagem do meu irmão caçula tentando cuidadosamente recortar um boneco que havia saído no jornal, ele tinha uns 7 ou 8 anos, eu estava vendo televisão mas acabei me distraindo com as murmurações dele cada vez que não conseguia seguir fielmente a borda do boneco, parei de ver televisão, simplesmente virei a cabeça e passei a dar atenção ao cuidadoso recorte do meu irmão. De repente ele num descuido acabou degolando o boneco num erro que não teria mais conserto, fitou o boneco em silêncio por alguns segundos e depois levantou a cabeça olhando ao seu redor, foi ai que ele percebeu que eu estava olhando e iradamente me perguntou “por que você está me olhando? Está vendo o que você me fez fazer” eu como irmão mais velho tentei ser condescendente e só dei um riso irônico. Essa imagem nunca saiu da minha cabeça.

A lembrança acima tem servido como referência nas vezes que deparo comigo mesmo ou com outras pessoas olhando ao redor procurando o culpado pelos erros que foram cometidos por nós mesmos. Achamos culpados revestidos das mais diversas formas, vamos ver algumas:

AS CIRCUNSTÂNCIAS. Dá um alívio quando percebemos que podemos culpar as circunstâncias, elas estão ali efetivamente, não são invenções nem suposições e aparentemente não foi você quem as procurou e, sobretudo, elas não podem rebater com você para alegar inocência. Circunstância pode ser tudo: O lugar onde você nasceu, a educação que você recebeu, o sistema político- econômico, a cultura da sua empresa, a TPM da sua companheira, etc. Claro que existem ocorrências em que as circunstâncias são efetivamente culpadas. Ser atingido por uma bala perdida ou por um imprevisível acidente da natureza é obviamente um acontecimento em que pode se imputar culpa às circunstâncias, mas geralmente é somente nesses casos, em casos de acidentes. Fora isto, goste ou não, as circunstâncias não têm responsabilidade pelos seus fracassos, o verdadeiro culpado foi você através das suas decisões. Circunstâncias servem somente para desenhar cenários de opção, de superação, de virada, de tomada de atitude. Você certamente não consegue mudar o ambiente que você nasceu (seja uma favela ou uma cidade do interior com poucos recursos), mas se você vai continuar ali é uma decisão exclusivamente sua. Não preciso numerar os exemplos, eles estão ali na mídia, são pessoas que decidiram fazer algo para mudar as suas próprias vidas, seja através da música, do estudo, do trabalho, etc. A única diferença entre eles e o resto é que eles decidiram não permitir que as circunstâncias determinem a sua vida, chamaram essa responsabilidade para si ao invés de ficar olhando ao redor para procurar culpados.

O DESTINO. Dificilmente encontraremos alguém que se auto-intitule de “fatalista”, mas se observarmos atentamente veremos pessoas com várias atitudes ou “deixas” fatalistas. Quantas coisas são atribuídas a “falta de sorte” ou então são justificadas por um “se não foi é porque não era para ser mesmo”, num linguajar mais esotérico podemos igualmente atribuir os nossos fracassos a “forças da natureza” como mapas astrais, conjunção das estrelas, natureza dos signos, carmas, etc. As pessoas mais “espiritualizadas” podem com toda tranqüilidade dizer que “não era a vontade de Deus”, em fim, um arsenal para não precisarmos mais nos sentir culpados. Então, será que a vida não conspira? Será que Deus não manifesta a vontade dele sobre as nossas vidas? Não entrarei em discussões religiosas, uma coisa é certa: Temos livre arbítrio, para manifestá-lo pensamos, imaginamos, planejamos, organizamos, decidimos e agimos. Coisas que, nesta terra, somente nós humanos fazemos e se podemos fazer isso o destino não tem mais poder sobre nós. O destino nunca nos obrigará a tomar decisões, ele no máximo pode se apresentar como opção, mas a decisão continua sendo nossa e de mais ninguém. O destino pode colocar na sua frente uma pessoa com todos os requisitos desejados para ser seu(sua) companheiro(a) mas se esse relacionamento vai funcionar vai depender dos seus atos, do amor que você e esta pessoa são capazes de demonstrar, da sua capacidade de perdoar, etc. etc.

OS OUTROS. Esta é a mais covarde e imatura das desculpas, parte do princípio de que você é uma vítima dos erros e maldade de terceiros onde você teria feito tudo ao seu alcance sendo, entretanto, prejudicado por outros. Outra faceta ridícula desta desculpa é o famoso “você errou primeiro” e se efetivamente o outro cometeu o erro antes então recebemos um habeas corpus para errar também. “Eu trato da mesma forma como sou tratado” e “não tenho sangue de barata para não reagir” são duas das frases mais famosas deste tipo de comportamento. Ah! Mas nós não somos uma ilha, dirão rapidamente os acostumados a utilizar este argumento para colocar responsabilidades em terceiros. Não, certamente não somos. O mundo é cada vez mais interativo, trabalha-se cada vez mais sistemicamente, em equipe, em conjunto, em turmas, etc. Mas somos nós que escolhemos o clube que iremos nos filiar, as pessoas com que vamos nos relacionar, a doutrina que vamos seguir, o blog que vamos ler, e por ai vai. A interatividade do mundo não nos exime de responsabilidade ela simplesmente nos exige ter mais zelo no nosso modo de interagir e ao escolher com quem nos relacionaremos.

Circunstâncias, destino e os outros fazem parte do nosso ambiente de vida, estão ali querendo nos influenciar de todas as maneiras, mas a maneira como eles irão nos influenciar depende exclusivamente de nós, a conseqüência desta interação é dependente somente de nossas decisões e ações. O resto é birra de criança mimada.
Apolo

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Aonde você quer chegar?

Esta foi a pergunta, quase que automática, que recebi de uma das pessoas que leram a minha primeira postagem neste blog. Se me dei o trabalho de criar um blog e estou me propondo a escrever algo toda semana, então é óbvio que devo estar querendo chegar a algum lugar. Como tudo o que a gente faz nesta vida TEM que existir um propósito, um objetivo, uma meta. Mas caramba! Eu não tenho nada disso neste caso! Foi por isso que a minha resposta, também quase automática, foi: "E eu preciso saber onde quero chegar?"

Quem nunca ouviu, quando criança ou adolescente, a pergunta "O que você vai querer ser quando crescer?" e qualquer que fosse a sua resposta ai vinha o conselho para você estudar e se preparar para atingir a sua meta, seguia-se aquele blá, blá, blá todo de como você seria feliz ao atingir os seus objetivos. Este raciocínio é o que dá sustentação à pergunta que me foi feita: "Trace a sua meta e procure a sua felicidade", lógico não?...... NÃO!

Primeiro problema, a sua felicidade nunca pode estar na sua meta, no objetivo que você quer atingir. Existe uma grande confusão a este respeito. Um grande homem disse "pelos seus frutos conhecerás se algo é bom ou é ruim". Numa das maiores distorções da história as pessoas acreditaram que tinham que conseguir a qualquer custo "dar bom fruto" para serem felizes. Fruto é conseqüência de um sem número de processos, desde colocar a semente em terra fértil até contar com a sorte para não vir uma geada ou enchente e arruinar a lavoura. Fruto é sazonal e efêmero e somente terá utilidade se puder ser degustado por alguém ou der semente para continuar o ciclo da vida. Será que a nossa felicidade tem que ser também efêmera e somente ser válida se conseguirmos ser útil para os outros? Será que enquanto acontecem esses fenômenos que levam uma semente a germinar e depois dar fruto não pode já existir felicidade?

Segundo problema, meta não é real, ela só existe na sua cabeça, na sua esperança. Ancorar a felicidade em algo tão frágil assim não parece muito inteligente, não é mesmo? Concreto é o que você faz hoje, o que você sente hoje. Mas isso quer dizer que não devemos ter esperança? Claro que não! Para nós humanos, que temos esperança, ela nunca morre e não é para morrer mesmo, precisamos dela. Mas o que fazemos hoje para atingir a nossa meta é o que nos deve dar felicidade. A felicidade é para ser vivida e sentida a cada dia, nunca para ser colocada como conseqüência de uma meta a atingir.

Terceiro problema, metas geralmente não são atingidas. Pense em você mesmo há alguns anos atrás, quantas das suas metas você não conseguiu atingir?..... Calma, isso não significa que somos fracassados, quer dizer que a vida com toda a sua dinâmica nos leva onde ela e nós mesmos permitimos. Engraçado que isso também acontece no mundo dos negócios. A Coca Cola foi criada com a meta de ser xarope; A Internet foi idealizada para integrar experiências científicas de universidades e por ai vai. Nenhuma delas cumpriu a sua meta original, mas nunca ninguém poderá dizer que são fracassos. Com nós mortais é a mesma coisa, não importa se você não cumpriu a sua meta, importa aonde você chegou e se para chegar você trilhou um dia a dia de felicidade, de realização, de motivação, de alegria, etc. E é isto que eu procuro, não sei aonde vou chegar, mas espero a cada postagem poder me divertir mais e mais.

Apolo

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Início

Arrumar o armário, catalogar os CD´s, separar as fotos e quantas outras coisas nós temos no nosso "to do list" as quais vamos protelando, protelando enquanto a bagunça continua aumentando sem esperar a nossa tomada de atitude. Criar um Blog estava na minha lista, finalmente aconteceu! (será?), bom pelo menos formatar um é um começo. Será que terei a disciplina para escrever nele toda semana como me proponho? Não sei, mas pelo menos estas linhas são um início.

Tudo começou quando meu filho caçula me sugeriu escrever um livro de "filosofia". O que ele queria dizer na realidade era "porque você não escreve todas essas coisas que nos costuma dizer e são tão diferentes das frases feitas que ouvimos por ai?". Não sou um iconoclasta e muito menos um revoltado social, considero-me apenas um observador com calos na alma que foram capazes de romper os paradigmas que teimam em nos colocar desde pequenos. Quem tiver paciência de ler este blog poderá compartilhar um pouco dessas observações e divagações. Se você achar alguma utilidade na leitura, bom para você! Se não gostar clique e vá para outro, pode ser egoísta mas esta viagem é minha, escrevo porque gosto e se quiser embarcar comigo será bem vindo, não tenho a intenção de salvar o mundo, escrever um livro de auto-ajuda ou de revelar O Segredo da felicidade só pretendo expor o que precisei destruir para poder moldar uma maneira de viver tão peculiar e tão lugar-comum ao mesmo tempo. Quem sabe meu filho caçula acabe sendo meu único e fiel leitor?

Apolo.