segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO?

  • “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Bíblia – Livro de Marcos, Cap. 12)


Caso colocasse somente a segunda parte da citação e tirasse o plural (ao final) a idéia principal ficaria mudada. O objeto desta postagem não é discutir a primeira parte, embora a diferença de ênfase dada dê uma baita discussão filosófica. Doutrinas não é meu foco de discussão, muito menos tentar empurrar as minhas crenças para os que me honram com seu tempo e leitura.

Será que é efetivamente possível “amar aos outros como a si mesmo”? Os religiosos responderão “Sim, claro!” imediatamente. Do outro canto do ringue os psicopatas responderão “claro que não!” com a mesma rapidez. Curiosamente os religiosos após breve reflexão verão que, nas suas próprias vidas, embora saibam como deveria funcionar o amor, é difícil e frustrante colocar esse conceito em prática. Da mesma forma os psicopatas após pensar um pouco se perguntarão “o que é amar mesmo?”

Voltemos ao básico, procurando num dicionário qualquer encontraremos a definição de amar como sendo “Ter amor, afeição, ternura por, querer bem a, apreciar muito, estimar, gostar de...” Ouso a resumir: “amar é ter sentimentos bons em relação a algo ou alguém”... uhhmmm... Não gostei! Amar é mais do que “ter sentimentos” amar é um verbo, é uma ação, e toda ação envolve uma decisão, e toda decisão acarreta uma responsabilidade.... Agora ficou mais completo, sentimento sem ação não é nada, aliás, é pura demagogia. Tentarei compor a “minha” definição: “Amar é agir levando em conta o amor que temos por algo ou alguém”, simples assim. Não, não definirei amor, mas uma coisa fica clara. Amor sem amar não existe. Ou um sentimento sublime que não é forte o suficiente para levar você a agir da maneira correta não merece o nome de amor.

Amar não é somente uma decisão, é também uma habilidade, uma capacidade, um dom, uma característica da nossa personalidade, um componente do nosso software emocional. Como é comum na natureza, uns vêm com mais capacidade outros com menos. Bonito é pensar que todos têm a mesma capacidade de amar, maduro é aceitar que isso não existe. A boa notícia é que, igual às outras capacidades, podemos melhorar com a prática. Entretanto a má notícia é que a falta de prática nos leva a fortalecer o nosso egoísmo e dificuldade para amar. Nessa brincadeira não tem como ficar neutro. A vida nos apresenta momentos de decisão todos os dias e todos os dias fortalecemos um lado ou outro. Aí é que vem a confusão: Como amar ao próximo como a si mesmo se para “nos amarmos” temos que ser egoístas e, portanto deixar de amar ao próximo? Será que um dos dilemas transcendentais da vida é “amamos ou somos egoístas?” Dependendo das nossas capacidades uns acharão mais fácil amar, outros acharão mais fácil ser egoístas de forma natural e sem dor na consciência. Para a sua decepção, que estava começando a ficar feliz com a idéia de que “ser egoísta pode estar ok em certas ocasiões”, reservei esta idéia: egoísmo e amor não combinam, impossível praticar o amor sendo egoísta, na verdade é muito mais provável que você pratique o egoísmo e diga que é amor.

Amar pode ser agradável e gratificante, mas também pode ser dolorido, sofrido, frustrante. O amor leva em consideração o que é para o nosso bem, o nosso crescimento, o nosso fortalecimento, etc. Nesta altura acho que já aprendemos a separar o que é para o “nosso bem” do que é para o “nosso bom”, ambos não andam necessariamente juntos. Tendo isto em mente fica mais fácil decidirmos como praticar “amar o próximo como a si mesmo”. Impossível existir algo que seja para o teu bem e que também não seja para o bem do teu próximo. Pode acontecer que o “bem” resultante de uma atitude seja diferente, mas sem dúvida será para o bem de ambos. Citarei um exemplo básico: um pai levando seu filho para tomar vacina, ele sabe que a criança vai chorar, espernear e sofrer, mas levado pelo amor que tem por ela, ele vai em frente, como conseqüência consegue aprender a lidar melhor com as dores do filho (algo que a vida trará inexoravelmente) e a criança ganha a imunidade esperada. Dentro da mesma linha, pais que dão de tudo para seus filhos, não passam conceitos de esforço e disciplina e evitam eles passarem pelas conseqüências de seus atos, dizem que agem assim por amor, mas não há nenhum amor nessas atitudes, na verdade há um grande egoísmo. São movidos pelo fato de não querer ter maiores problemas negando as coisas e assim rapidamente acabar com o incômodo, ou pelo fato de sentirem-se mal com as crianças berrando ou sofrendo por não terem o que desejam e acabam cedendo para terminar com o sentimento ruim que eles (pais) têm vendo o “sofrimento” dos filhos. Mas, que pai gosta de ver o filho sofrer? Nenhum. Mas o pai que pratica o amor sabe que o filho precisa passar por momentos ruins, seja para receber uma vacina ou para sofrer a conseqüência de uma atitude errada. O pai egoísta tenta evitar que ele passe por isso, o pai amoroso passa com ele por esse momento, sofre com ele, é para isso que são os pais afinal..... Praticar o amor (amar) é isso aí, agir pensando sempre no bem, no longo prazo como mais importante que o curto prazo e isso funciona assim a qualquer nível de relacionamento com o seu próximo seja namoro, amizade, trabalho, etc.

Como conclusão você verá que amar o próximo como a si mesmo não tem nada de religioso, é na verdade uma regra de vida que, se usada da maneira correta, trará frutos positivos para você e os que você ama. O estranho é saber que conhecemos essa frase há mais de dois mil anos e até agora as pessoas continuam pensando nos prazeres imediatos em detrimento das ações construtivas e amorosas, pior ainda, vemos o mundo andando em direção ao culto do egoísmo, do egocentrismo. Médicos da mente dizendo que o homem moderno não sabe amar e insinuando que está tudo bem com isso. Difunde-se que o que é natural é correto por si só. O egoísmo é um sentimento natural ao ser humano, mas não é por isso que devemos cultivá-lo e achar que está tudo bem com ele. Deus (ou a evolução, se você acredita nisso) não nos fez perfeitos, se assim fôssemos seríamos deuses, e não somos. Os nossos defeitos naturais nos dão a chance de crescer, de melhorar. Acreditar que eles estão corretos pelo fato de serem naturais nos tira a chance de sermos pessoas melhores. Amar o próximo como a si mesmo é uma ótima oportunidade de colocarmos as nossas deficiências naturais a prova e melhorarmos como indivíduos, se o mundo não vem junto com a gente, problema do mundo! Mais importante que o mundo todo é o SEU mundo.

Com amor.

Apolo.

2 comentários:

O homem e a mente disse...

...mas infelizmente o amor é confundido como algo egoísta, porque pelo facto de amarmos queremos para nós. As vezes é confundido como sentido de posse. Amar é também saber dar, saber soltar. Como se ama o outro quando não se tem amor próprio? Daí a procura pelo amor externo de formas tão desesperada que muita vezes se mergulha em algo doentio, tudo por AMOR.

Bom texto, desculpa a demora.

O homem e a mente disse...

....e numa mais escreveu??