domingo, 28 de setembro de 2008

O que metais alcalinos têm a ver com o subjuntivo do futuro composto?

Será que você consegue localizar na tabela periódica, metais alcalinos, semi metais ou gases? E o que dizer dos modos verbais? Que tal tentar explicar qual a diferença entre um verbo no indicativo do futuro do presente e no subjuntivo do futuro composto? Caso você saiba a resposta de uma das perguntas certamente não saberá das duas ao mesmo tempo. Se agora que já se passaram alguns anos que saímos da escola não nos lembramos mais de nada disso porque será que continuam insistindo que nossas crianças sigam estudando estas e outras coisas que não lhes serão úteis no seu futuro? Se a resposta é “para ter cultura geral” porque então não são ensinados com mais ênfase em matérias como pintura, música, cinema, teatro, etc. Se a resposta é para “aprenderem algo que terá utilidade no seu futuro” porque o viés profissionalizante é somente para algumas escolas e não para todas? Porque não são ensinados conceitos básicos de administração de empresas, economia, gestão, logística, psicologia, empreendedorismo, etc.?
Se você tem (teve ou terá) filho na idade escolar a pergunta “para que serve tudo isto que estou aprendendo?” é uma certeza, ocorrerá mais cedo ou mais tarde. Se você nem lembra mais daquilo que ele está estudando então como responder a esta inquietante indagação? A criançada de hoje em dia não vai ficar satisfeita com a resposta que você recebeu do seus pais, posso não saber qual foi, mas posso imaginar algo como “porque é a sua obrigação, eu aprendi na sua idade então você também vai ter que aprender”. Crianças de hoje conseguem “zerar” vídeo games cujas caixas não trazem manuais de instruções e com diálogos em um idioma que não compreendem. Elas vão pulando de “fase em fase” através de auto-aprendizado e ajuda cooperativa com os colegas e somente abandonam o jogo quando o terminam para logo depois passar para outro. Então é melhor ter outra resposta a não ser que você queira concordar com ele e comece a dizer “acho um absurdo mesmo! Tanta coisa que não vai usar no futuro e não sei por que tem que aprender?” Ele poderá até ficar feliz com você agora, mas isso não vai ajudá-lo na escola e certamente sentirá pena de você no futuro quando ele descobrir que você estava completamente errado.
Todas as escolas têm que seguir o mesmo currículo, algumas conseguem outras não, mas mesmo entre as que conseguem existe uma grande diferença na qualidade do aluno que ali estuda e que se reflete nos Enem’s e vestibulares da vida. É nesta diferença que enxergo o verdadeiro motivo não somente de freqüentar uma escola como o de ter de aprender modos verbais e tabelas periódicas.
Escola serve para aprender a aprender, e ela será tão bem sucedida quanto o muito deste processo puder ensinar aos seus alunos. Os anos passados nos bancos escolares servem para refletir tudo aquilo que os nossos filhos irão enfrentar fora das grades da escola. Repare na sala de aula, ali já se encontram todos os estereótipos da nossa sociedade não somente no alunado, mas também no corpo docente. Uma vez a minha filha comentou que a professora de português dela era muito ruim (não foi bem essa a palavra que ela usou, mas o sentido era esse mesmo) disse inclusive que um grupo de alunos havia ido ao Diretor fazer queixa e a resposta fora “Sabemos do problema, vocês não são os primeiros a reclamar disso” Entretanto nada mudara, as provas continuavam difíceis e segundo ela a matéria insuficiente. Só lhe restou buscar reforço escolar por conta própria, juntar-se com as amigas e fuçar a internet para suprir a deficiência, foi um sufoco, mas ela e as amigas conseguiram aprovação na matéria. Nesse ano a minha filha aprendera a superar obstáculos, a saber que nem sempre a vida é do jeito que deveria ser, que perante uma situação que possa ser injusta com ela só lhe restará superação através do esforço próprio. Sei, sei, muitos vão dizer que o exemplo é ruim, que a escola tinha que trocar a professora, etc. e tal, mas atentem para o fato de que a superação foi coletiva, não individual, a escola através dos anos tinha conseguido ensinar aos seus alunos que eles não somente devem reivindicar pelos seus direitos como também devem buscar soluções com os seus próprios esforços e não esperar exclusivamente que a resposta venha de terceiros, sobretudo quando é o futuro deles mesmos que está em jogo. Uma vez a minha filha me disse “Pai, eu sei que reclamo da minha escola, sei que ela é difícil, mas eu não quero deixar de estudar nela, não gostaria de estudar em uma escola que não me exigisse do jeito que esta me exige”. Se você está pensando que a minha filha é “nerd”, está muito enganado, ela adora essas coisas todas que adolescente gosta, é um sacrifício para ela acordar cedo, tem Orkut, MSN, não perde um dia o ranking da MTV, e por aí vai. Mas foi ela quem apontou para a resposta da pergunta fatal: A escola serve para exigir que os alunos se esforcem num processo de aprendizado. Como esse aprendizado tem que ter um conteúdo, colocamos ali tabelas periódicas, modos verbais, fórmulas de física, e outras coisas que, além de nos darem cultura geral, nos serão úteis de alguma maneira.
Já deu para perceber que se credito à escola um objetivo de formação disciplinar, acho então, um crime contra a Educação o regime de “aprovação automática”, que é a maneira pela qual, os que deveriam ser responsáveis por ensinar os alunos a criarem mecanismos de aprendizagem, tentam burlar a responsabilidade pelo mau desempenho escolar. O mesmo crime pode estar sendo cometido dentro da sua casa cada vez que você não cooperar com a formação do seu filho usando mecanismos minimizadores de esforço. Como? Dizendo que a escola que ele está é fraca (ou forte) demais mesmo e que a culpa não é dele; que o horário é um absurdo e que (só hoje) pode dormir mais um pouco; que muitas das coisas que são ensinadas são inúteis mesmo; que o que ele deixar de aprender agora poderá recuperar num “cursinho pré-vestibular” no futuro e por ai vai.
Fique a vontade para usar a minha resposta (ou da minha filha) se concordar com ela, e fique a vontade também para discordar dela e usar outra qualquer só não fique a vontade para deixar de dar ao seu filho os valores que ele irá precisar usar no futuro. O problema é que o futuro embora pareça incerto sempre chega.
APOLO.

Nenhum comentário: